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Gustavo Macedo: O retorno morno do Brasil à ONU
Opinião

Gustavo Macedo: O retorno morno do Brasil à ONU

O discurso de Lula foi bem recebido pela comunidade internacional, mas também foi alvo de críticas por ser genérico e pouco inovador. Destacou a importância da ONU, mas não apresentou propostas concretas para reformar o Conselho de Segurança
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas na semana passada, marcando seu retorno ao palco global após 14 anos. O discurso foi uma defesa dos valores democráticos, do multilateralismo e do combate às desigualdades. No entanto, também foi marcado por uma certa falta de ousadia e de propostas concretas para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

Em uma fala de pouco mais de 20 minutos, Lula tratou sobre inúmeros temas sem se aprofundar em nenhum. A luta contra a desigualdade em suas múltiplas formas foi sua principal bandeira, além da menção à preservação da Amazônia, saúde, educação e paz.

O discurso de Lula foi bem recebido pela comunidade internacional, mas também foi alvo de críticas por ser genérico e pouco inovador. O presidente destacou a importância da ONU para a paz e a segurança internacional, mas não apresentou propostas concretas para reformar o Conselho de Segurança da organização.

O presidente brasileiro falou sobre a importância da preservação ambiental, mas não disse o que pretende fazer a respeito.

No que diz respeito ao combate às desigualdades, Lula defendeu a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento global, sem apresentar propostas concretas para isso. Reconheceu que 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estão por um triz, mas não disse o que o Brasil fará para ajudar a salvá-los.

Ainda assim, o retorno do presidente brasileiro ao principal palco da diplomacia mundial deve ser entendido como um discurso para dentro e para fora. Para sua audiência internacional, Lula quis pontuar uma ruptura clara com o posicionamento da política externa de seu antecessor, Jair Bolsonaro. Para tanto, Lula precisava resgatar agendas caras à tradição diplomática brasileira como preservação ambiental e justiça social que haviam sido abandonadas por seu antecessor.

Já para sua audiência doméstica, Lula procurou um discurso conciliatório. Diante de um cenário de cautela política e a expansão da sua base partidária com os chamadas partidos do Centrão. Lula evitou apontar dedos ao mesmo tempo em que falava para a sua base.

No geral, o discurso de Lula marcou um retorno morno do Brasil à ONU, no mesmo tom de fala da maioria dos demais países. Aparentemente, estamos atravessando uma crise da confiança diplomática ao redor do mundo. n

 

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Gustavo Macedo

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