A mesma ênfase com que se condenou o ataque terrorista do Hamas a Israel, precisa prevalecer quanto à retaliação que o governo de Benjamin Netanyahu desfechou contra os palestinos, massacrando a população de Gaza, cometendo crimes de guerra.
Grupos fundamentalistas alimentam-se da violência, e se valem do ressentimento de uma população cansada do aparente beco sem saída a que levam os arranjos políticos, sempre em prejuízo dos palestinos.
É de se lembrar que em 2006 o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) venceu as eleições parlamentares na Palestina, derrotando o laico e moderado Fatah, que foi expulso da Faixa de Gaza.
Mesmo com a derrota de seu partido, o Fatah, o presidente palestino Mahmoud Abbas, que continua governando a Cisjordânia, reafirmou o seu compromisso com um programa "baseado em negociações e um acordo pacífico com Israel" (conforme artigo de Marcelo Ninio, na FSP, 27/1/2006).
No entanto, suas palavras caíram no vazio porque a lógica do conflito permanente é o que reforça o poder tanto dos movimentos sectários quanto dos governos israelenses.
Antes do ataque do Hamas a Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seus extremistas apresentavam-se como os únicos capazes de garantir a segurança do país hebreu.
Mas o fato é que a violência e a opressão provocam rancores de tal intensidade, que levam ao estrondo, como uma panela de pressão sem válvula de escape. Assim, a próxima e inevitável explosão sempre será mais violenta do que a anterior.
Desde que o Hamas passou a controlar Gaza, aumentou o bloqueio de Israel, que controla tudo o que entra e sai do território, inclusive o trânsito de pessoas.
Alguns analistas veem Gaza como uma "prisão a céu aberto". Agora, o cerco intensificou-se, sendo proibida também a entrada de água e comida, acrescentando-se o corte de energia elétrica.
As negociações de paz, são extremamente complexas, reconheça-se, mas a alternativa é esperar a próxima e catastrófica explosão.
(A Palestina está reduzida a duas faixas descontínuas de terra — Cisjordânia e Gaza. Uma comparação entre mapas atuais e a partilha proposta pela ONU pode dar uma ideia da situação.)