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Plínio Bortolotti: Os "liberais" brasileiros e a eleição na Argentina
Opinião

Plínio Bortolotti: Os "liberais" brasileiros e a eleição na Argentina

Temendo pela democracia e pelo estrago irreversível que um sujeito como Javier Milei poderia causar ao país, os argentinos preferiram dar a vitória no primeiro turno a Sergio Massa,ministro da Economia de um governo muito ruim
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Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO  (Foto: O POVO )
Foto: O POVO Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO

É comovente o esforço que alguns "liberais" brasileiros fazem para tentar negar o óbvio: que Javier Milei, candidato a presidente da Argentina, é um populista de extrema direita, que desrespeita os limites democráticos, manifestando sua personalidade autoritária.

Seus adeptos no Brasil dizem que a melhor caracterização, como se isso fosse positivo, é a de um "libertário", que propugna pela destruição do Estado. Para Milei tudo deve ficar nas mãos da iniciativa privada — que poderia inclusive negociar órgãos humanos —, confiando que a "livre concorrência" daria um jeito em todas as mazelas econômicas e sociais.

Helio Beltrão, fundador do Instituto Mises Brasil, afirma ser equivocado classificar Milei como "o Bolsonaro argentino" ou de extrema direita e populista. "O Milei não é nada disso", afirmou ele em entrevista ao O Estado de S. Paulo. Para Beltrão, é "absolutamente surpreendente e excitante (sic) o fato de a Argentina ter um candidato anarcocapitalista como favorito nas eleições". (Pelo menos era favorito, quando falou ao jornal paulista.)

A defesa de Beltrão sugere aquela pergunta nas redes sociais: "é fã ou hater (inimigo)?" Confiram o perfil que ele faz de Milei: "Sobre populista também entendo de onde vem, porque o Milei criou essa persona amalucada, que ele não é. É claro que ele não é 100% normal (sic). Não é isso que estou dizendo. Mas é um acadêmico, que criou uma persona, com aquele cabelo despenteado, fazendo quadros histéricos na televisão, para passar a mensagem dele".

Quanto às propostas do candidato como romper relações com o Brasil, China e Mercosul, seus ataques às instituições, entre outros absurdos, seus áulicos dizem que são apenas discursos, que ele mudará se assumir o poder. Mas diziam isso de um desclassificado capitão, lembram?

Parece que os argentinos tomaram o Brasil como exemplo. Temendo pela democracia e pelo estrago irreversível que um sujeito do tipo poderia causar ao país, preferiram dar a vitória no primeiro turno a Sergio Massa, mesmo sendo ele ministro da Economia de um governo muito ruim. Por enquanto, uma opção pelo mal menor.

PS. Ludwig von Mises (1881-1973) foi um dos principais nomes da "Escola Austríaca", de característica ultraliberal na economia.

 

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