Exu é traquina! Depois de ter entrado nas escolas através do livro do pedagogo Linconly Jesus e das canções interpretadas por Elza Soares, de chegar à filosofia com os escritos de Luiz Rufino, de ter ocupado o sambódromo com o enredo vencedor da Agremiação Acadêmicos da Grande Rio, causou distúrbios em Uruburetama numa quadrilha Junina acusada de Macumba pela Secretaria de Cultura local, o ano passado. Não satisfeito, Exu chega ao Centro Dragão do Mar com a exposição "Festa baia, gira cura" do fotógrafo, antropólogo e macumbeiro Jean dos Anjos.
O que pretende Exu em suas aparições públicas? Exu é conhecido por ser o senhor dos caminhos, das negociações, da inversão de valores hegemônicos e da comunicação. Sua tarefa cosmológica e social não é a de agradar, mas de causar desconforto e reflexão. Assim foi com a deputada estadual conservadora do PL que endereçou requerimento a Secretaria de Cultura do estado a fim de que fosse retirada a frase (Exu te ama) que se encontra no painel externo da exposição no Centro Dragão do Mar. A motivação do pedido se deu como incomodo e referência a uma entidade considerada "esdrúxula" e a um suposto gesto agressivo aos valores da moral cristã.
Ao ocupar os espaços culturais da cidade de Fortaleza, Exu cumpre a risca a função cosmopolítica de nos informar da necessidade de estar alerta contra o conservadorismo e o racismo religioso ainda reinante. A potência artística e estética de Exu nos convoca a pensar a ausência histórica dos povos negros e indígenas no estado do Ceará e a importância das suas crenças, em que Exu também atua como agente.
Cabe refletir que Exu, neste como noutros contextos da nossa história, é um dos nossos aliados em uma transformação social e civilizatória atravessada por traumas e morosidade, que se arrasta do colonialismo aos nossos dias na construção do projeto contraditório e inacabado que chamamos de Brasil.
Ainda bem que ele nos ama.
Laroyê!