A história das Américas é moldada pelas relações dos navegadores e suas aventuras corajosas pelo Atlântico nos séculos XV e XVI. Não se aprofunda, porém, o processo genocida do europeu para com os povos primitivos. No Ceará, levaram as nossas melhores madeiras e, por Trairi, pelos seus dois portos, as valiosas tatajubas, com destino final Portugal. Violência com os índios, negros e com a natureza, mas até entre eles, os brancos, herdeiros de sesmarias, administradores de fazendas.
Foi no choque de interesses intermediados pelos coronéis, politicamente divididos entre os "carcarás" e os "caranguejos", que ocorreu, no século XIX, uma série de crimes pelo interior cearense. Citemos casos de Trairi, que englobava parte de Paracuru. Em Barreiras, José Ferreira Pinto de Carvalho, com mais de 70 anos, denunciou, em 1862, roubo de gado e de dinheiro. Sem resposta imediata, foi assassinado, assim como a esposa, o filho, a nora e a neta; um vaqueiro, uma escrava e uma criança forra. Nunca se comprovou o mandante da chacina, no que pesem acusações contra o major José Joaquim Carneiro, do Mundaú.
Em 1870, Paulina Ponte Barroso, esposa de Liberato Barroso de Souza, passava temporada no sítio dos pais, em Maleitas, por causa das ameaças do cônjuge. Em uma visita surpresa, foi assassinada a facadas pelo companheiro. Filho do líder político Antônio Barroso de Souza (Curral Grande), coronel da Guarda Nacional, major Liberato viveu sob a impunidade, casando-se outras duas vezes. Em 1873, em Frexeiras, onde administrava o porto, o boticário Joaquim Thomaz da Cunha (português Marinheiro Cunha) foi barbaramente espancado por denunciar tentativas de corrupção no citado ancoradouro, fato que não o impediu de publicar nota sobre desvios de mantimentos enviados pela Província aos flagelados da seca e peste de 1876/80.
Outras Paulinas continuam morrendo, indefesas e submissas às milícias. Urge, portanto, maior participação da sociedade contra a impunidade e por um mundo de paz. n