O problema da violência policial no Brasil não é de hoje, nem mesmo quando essa violência se expressa por meio da morte. A letalidade policial, quando agentes de segurança do estado causam a morte, é o tema do quarto boletim "Pele Alvo: a bala não erra o negro", produzido pela Rede de Observatórios da Segurança a partir de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação de oito estados do país.
Os dados mostram um retrato da letalidade policial no ano de 2022 a partir do número de vítimas, da raça/cor dessas pessoas, da idade e do território. BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP somam 4.219 registros de morte, em que um a cada quatro não tinham informações sobre a raça/cor das vítimas. De 3.171 registros de morte com informação de cor/raça declaradas, os negros somaram 87,35%, ou 2.770 pessoas. Ou seja, a cada 4h uma pessoa negra foi morta pela polícia em 2022.
O Ceará negligencia os dados de raça e cor quando não registra essa informação em 70% das vítimas. Foram 106 pessoas que morreram sem cor para o Estado do Ceará, mas o perfilamento racial estava presente nas ações das polícias nos territórios que decidiram por matar.
Encontramos que das 46 pessoas que morreram com raça e cor, 80% foram identificadas como pessoas negras. Sete em cada dez vítimas tinham entre 18 e 29 anos. São jovens e negros os corpos que tombam pela letalidade policial. Uma secretaria que negligencia a produção de dados, que negligencia a vida que tem raça, idade e gênero não consegue superar o problema da violência e a execução da segurança pública como uma política que promova a vida. Por que a secretaria não informa esses dados do perfil das vítimas?
A capacidade que os agentes de segurança do Ceará tem de desmantelar famílias a partir da morte de jovens negros nas periferias nos fala sobre o financiamento de uma guerra que tem um alvo, mesmo que subnotificado nas estatísticas. Elas falam sobre vidas interrompidas pela ação letal do Estado e devem abrir diálogo para enfrentar o genocídio em curso da população negra brasileira e cearense.