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Natalia Fingermann: É possível uma guerra entre Venezuela e Guiana?
Opinião

Natalia Fingermann: É possível uma guerra entre Venezuela e Guiana?

Embora uma guerra regional seja improvável, o Brasil tem ciência de que esse acontecimento teria consequências drásticas aos seus planos de integração pelo fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
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O referendo realizado por Nicolás Maduro sobre a intenção de anexar o território de Essequibo reascendeu um impasse fronteiriço do século XIX, que se mantém até os dias atuais. Em 2018, a Guiana fez uma solicitação à Corte de Haia para que confirmasse a validade do laudo arbitral de 1899, quando a Guiana ainda era colônia britânica. O resultado da Corte Internacional de Justiça (CIJ) a favor da Guiana em abril desse ano trouxe esse tema de volta à pauta política da Venezuela.

Muitos analistas têm apontado que Maduro busca manter a sua popularidade ao rechaçar a decisão da CIJ. Com uma economia em frangalhos e uma produção de petróleo nacional muito abaixo de sua capacidade máxima, o presidente da Venezuela precisa de uma agenda política que desestabilize o potencial de vitória da oposição nas eleições de 2024.

Entretanto, essa sua aventura política de tentar anexar o território rico em petróleo da Guiana tem despertado um sinal amarelo aos países do continente americano. O próprio Estados Unidos já se pronunciou em apoio da decisão da CIJ e, no dia 7 de dezembro, o Comando do Sul dos EUA conduziu exercícios militares aéreos na fronteira venezuelana, demonstrando claro suporte ao presidente guianense Mohamed Irfaan Ali, uma vez que a empresa norte-americana, Exxon Mobil, é uma das principais beneficiárias da exploração do petróleo no país.

Essa movimentação militar foi acompanhada pelo Brasil, e Ministro da Defesa, José Múcio, confirmou que as tropas e os tanques, originalmente enviados somente para o combate do garimpo ilegal em Roraima, monitoram qualquer incidente regional. Por outro lado, em paralelo a essas ações, há a atuação dos canais diplomáticos que o presidente Lula e seu Ministro das Relações Exteriores têm estabelecido em conversas de bastidores junto aos países-chaves.

Embora uma guerra regional seja improvável, o Brasil tem ciência de que esse acontecimento teria consequências drásticas aos seus planos de integração pelo fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com graves danos ao bioma da floresta. Em tempos que diversas lideranças internacionais reafirmam Clausewitz - "a guerra é uma continuação da política por outros meios" -, e civis inocentes são mortos ao redor do globo sem qualquer justificativa.

É importante que os governantes da América do Sul lembrem que o único caminho para a prosperidade econômica é paz, pois como coloca o liberal Norman Angell, o uso da força militar não passa de uma grande ilusão para o futuro promissor de uma nação.

 

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Natalia Fingermann

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