Na quarta passada, escrevi sobre o 8 de janeiro já ter nascido sob a égide da disputa. No primeiro aniversário do dia em que militantes e adeptos do bolsonarismo extremo invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal destruindo tudo o que encontravam pela frente, a materialização das divergências deu o tom.
Nas redes, uma das queixas de bolsonaristas sobre o evento puxado pelo presidente Lula que reuniu representantes dos três poderes no Congresso Nacional era a politização da data. O que me levou a pensar se, por acaso, o plano de seguir para Brasília em janeiro de 2023 e "tomar o poder" na marra não era político. As tentativas de desacreditar as urnas eleitores também não estavam na categoria da política?
O fato de senadores, governadores e deputados ignorarem o vexame causado por pessoas que demonstraram total desprezo pela democracia não se enquadra em escolhas políticas? O ato Democracia Inabalada é político na sua essência. Foi contra a política que aquelas pessoas dominadas por informações equivocadas, ódio e violência atentaram contra o patrimônio público. É na política e com política que se defende a democracia.
Em alguns documentários e entrevistas sobre o 8 de Janeiro fica muito claro, a partir de imagens inéditas, como a fúria da turba que invadiu Brasília em 8 de janeiro de 2023 ficou um objetivo muito claro que era de desestabilizar o governo do presidente eleito para fazer os militares assumirem o poder. Agora, como sempre acontece nesses casos, eles negam de todas as formas e assumem um ar vitimista que não combina com a ferocidade registrada nas imagens.
A tentativa de reescrever o que aconteceu ou minimizar os fatos chegou na Wikipedia. Uma das matérias mais interessantes que li sobre o caso foi publicada no Uol e mostra que a página do 8 de janeiro criada no ano passado sofreu 694 edições, sendo que 532 tentativas de mudanças aconteceram no último dia 8.
Editores e moderadores tiveram um trabalhão com o texto de 48,8 caracteres. Durante todo o dia, usuários tentaram alterar o texto substituindo o lema bolsonarista "riscos de fraude eleitoral" por "falta de provas de lisura nas urnas". Outros não queriam que o termo "manifestantes bolsonaristas" aparecesse na versão da plataforma e insistiam que seriam apenas "manifestantes".
Houve impasse também com o termo golpe que deveria ser trocado por "intervenção federal", como se uma intervenção federal após um processo eleitoral com vencedor já empossado pudesse ser de outra categoria.
Essa refrega no campo da linguagem dominou as redes sociais bolsonaristas e teve até quem prestigiasse "patriotas" destruidores do patrimônio público, enquanto alguns deles, em janeiro passado, se refugiaram nos Estados Unidos ou em outros países em passeios. Os pobres patriotas parece que só perceberam o quanto foram enganados com a mensagem subliminar que receberam quando se viram envolvidos até o pescoço com a Justiça.