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Beatriz Azevedo: A COP28 e o desafio do clima
Opinião

Beatriz Azevedo: A COP28 e o desafio do clima

Com 2023 batendo o recorde de ano mais quente da história, as secas na Amazônia e os temporais torrenciais intercalados com ondas de calor em São Paulo, está cada vez mais difícil negar que a crise climática é urgente e afeta a todos
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Este ano fez uma década desde a minha primeira participação em uma Conferência das Partes de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, mais conhecida como COP, ainda em 2013. Dez anos depois, tendo participado presencialmente de seis conferências, desembarquei em Dubai, há algumas semanas, para mais uma delas.

Quando comecei a trabalhar com clima, lembro bem o desafio de fazer as pessoas compreenderem a gravidade do problema. Todo mundo achava que se tratava de algo distante, impactando apenas ursos polares em geleiras derretendo literalmente do outro lado do planeta. Com 2023 batendo o recorde de ano mais quente da história, as secas na Amazônia e os temporais torrenciais intercalados com ondas de calor em São Paulo, está cada vez mais difícil negar que a crise climática é urgente e afeta a todos, principalmente os mais vulneráveis.

Com o problema estampado em manchetes no mundo todo, a COP28 aconteceu debaixo de grandes expectativas. A conferência foi marcada por contradições: sediada nos Emirados Árabes (um dos 10 maiores produtores de petróleo no mundo) e presidida por um ex-executivo dessa indústria, tinha como objetivo marcar o início do fim da era dos combustíveis fósseis. E conseguiu. Após intensas negociações, o texto final saiu prevendo a transição para o fim dos combustíveis fósseis, com a meta de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.

Todos os países voltam agora para casa com uma tarefa a cumprir. No caso do Brasil, é necessário reduzir cada vez mais o desmatamento, em todos os biomas, e promover o reflorestamento e restauração dos ecossistemas, inclusive como uma fonte de renda para a população. Além disso, precisamos ampliar cada vez mais nossa capacidade de eólica e solar, respeitando os direitos humanos e repartindo os benefícios gerados com as comunidades locais.

Essa COP entregou um resultado possível, diante dos diversos, e muitas vezes divergentes, interesses que foram negociados. Se há 10 anos mal se falava de clima, vamos aproveitar a atenção no assunto para cobrar medidas mais ambiciosas de empresas e governos. Ainda estamos distantes do cenário de redução de emissões que mantém o clima no planeta seguro para a humanidade. Contudo, já sabemos que estamos indo na direção certa. Vamos em frente, não há tempo a perder.

 

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Beatriz Azevedo

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