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Vanda de Claudino-Sales: O Planalto da Ibiapaba não é do Piauí, é do Ceará!
Opinião

Vanda de Claudino-Sales: O Planalto da Ibiapaba não é do Piauí, é do Ceará!

O mapeamento geológico do Grupo Serra Grande demonstra que ele se situa no contato com o embasamento cristalino no Ceará, e no contato com outras formações da bacia do Parnaíba no Piauí
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Fui procurada por equipe do Governo do Ceará para elaborar parecer sobre a questão da divisa entre Piauí e Ceará, na área de litígio que envolve o Planalto da Ibiapaba. O convite vem por eu ser especialista em relevo, e os documentos clássicos indicarem que a divisa entre os dois estados deve ser feita "na raiz da serra", nos limites ocidentais e orientais desse relevo.

Pautada em décadas de pesquisas sobre o relevo do Nordeste, pude elaborar a seguinte avaliação: o Planalto da Ibiapaba tem limites definidos pelos afloramentos do grupo geológico "Serra Grande", que é parte integrante da bacia sedimentar do Parnaíba, estrutura rochosa sobre a qual a serra foi modelada.

O Grupo Serra Grande foi depositado a partir de 420 milhões de anos, e representa a base de um pacote sedimentar que tem cerca de 3.500 km de espessura. Apesar de ser o fundo da bacia, aflora nas bordas, em função de processo inicial que produziu afundamento da parte central e soerguimento das bordas. Assim, o Grupo Serra Grande aflora em toda essa área de contato entre o que hoje é a divisa do Ceará-Piaui.

Esse processo tem continuidade no tempo: há cerca de 120 milhões de anos, quando inicia a divisão do Pangea no Nordeste, houve novo soerguimento, o qual gerou os relevos elevados do Ceará: o Grupo Serra Grande foi soerguido solidariamente, gerando a Serra da Ibiapaba primitiva. A partir de então, a erosão atacou a área, resultando nos atuais contornos do Planalto da Ibiapaba. Assim, toda a região que contêm os afloramentos elevados do Grupo Serra Grande corresponde a esse relevo, tanto nos limites orientais (Ceará), quanto nos limites ocidentais (Piauí).

O mapeamento geológico do Grupo Serra Grande demonstra que ele se situa no contato com o embasamento cristalino no Ceará, e no contato com outras formações da bacia do Parnaíba no Piauí. Esse contato ocidental avança centena de quilômetros dentro do Estado do Piauí, e está longe de coincidir com o limite de definição da divisa entre os dois estados como vem propondo o Piauí, e que definiria quase toda a Ibiapaba para esse estado. A análise histórica e geomorfológica da região comprova um dado cristalino: a Ibiapaba é cearense!

 

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