Os jornais brasileiros gastaram boas horas em transmissões e textos sobre a fuga de dois presos da Penitenciária Federal de Mossoró. Segundo as notícias, é a primeira fuga em 18 anos de existência do sistema penitenciário federal. Diante do acontecimento, o atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou um plano para construção de muralhas, contratação de mais policiais, aperfeiçoamento do sistema de alerta e modernização do sistema de monitoramento, entre outras medidas. Isto significa que um grande montante de recursos públicos será destinado para um sistema que não está em colapso, mas é resultado de múltiplos colapsos dos sistemas penitenciários estaduais.
As incapacidades dos sistemas estaduais geraram o sistema federal, criando um regime de exceção para cuidado de presos considerados perigosos e que, em virtude dos riscos que representam, segundo o Estado, precisam de um regime disciplinar diferenciado. Restou ao governo federal gastar mais dinheiro público no pior investimento a curto, médio e longo prazo para toda sociedade. Por trás de tudo isso, esconde-se o verdadeiro colapso: o de todo sistema de segurança pública e justiça.
Infelizmente, é mais simples falar em muralhas, pois elas são visíveis mesmo quando apenas criam uma frágil ideia de segurança. Apesar da pena de prisão ser administrada de maneira recorrente no combate ao crime, os grupos criminosos se movimentam, ultrapassam os controles estatais e atuam em mercados ilegais de grande impacto econômico na sociedade brasileira. Isto acontece porque existem fragilidades que vão desde atuação das forças policiais até a maneira como os processos judiciais caminham.
Falta coordenação e estratégias nacionais de enfrentamento ao crime, com intercâmbios e soluções refletidas a partir de uma política nacional de segurança. Uma política condizente às necessidades reais e não às bravatas de políticos interessados em ganhos eleitorais. Na perspectiva proposta aqui, a prisão seria algo menor dentro de uma discussão mais ampla e com soluções mais econômicas, eficientes e melhores para toda sociedade.