Recentemente, deparei-me com os entulhos do último bangalô da Rua Padre Valdivino, na região da antiga "Baixa Preta", onde existia a garagem dos bondes da Light. Foi-se abaixo sem chamar atenção porque, talvez, estivesse abandonado ou "feio", "ultrapassado". Foi-se, porém, devido à nossa cultura alheia ao patrimônio, ao que nos representaram a vida e as imagens do passado.
Em concorrência com José Gentil pela ostentação do poder financeiro, o comerciante Plácido de Carvalho, em plena crise econômica do exterior, construiu um castelo, revelando o Outeiro, um bairro "afastado" do Centro, de aspecto rural, e antevendo o futuro de Fortaleza.
Antes, seu amor europeu, Pierina Rossi atravessou o Atlântico pelo mar, em 1917, sob o temor de ataques nazistas a Paris, durante a II Guerra, acomodando-se no palacete de cuja torre avistava-se as dunas do Mucuripe ao Cocó. Assim, virou moradia da família e um verdadeiro símbolo de encanto da cidade.
Sobre a sua demolição, em 13 de fevereiro de 1974, "abandonado e ultrapassado", muito se debateu, mas incomodou pouco as autoridades e ao setor imobiliário. Desse modo, passada meia década, os pesquisadores, historiadores e memorialistas se debruçam em estudos que, em suma, têm como objetivo evitar a repetição dos erros, preservando a memória da Capital.
O livro do jornalista Eliezer Rodrigues, "Castelo do Plácido. Apogeu e destruição 50 anos depois", a ser lançado neste 24 de fevereiro na Praça dos Mártires, de caráter investigativo, celebra essa necessidade. Uma obra rica, com colaboração de estudiosos, voltada para as gerações futuras.
Quanto ao título deste artigo, transcreve a manchete do jornal na véspera dessa tragédia, da qual complementou um dia após: "Finda-se a lembrança que parte da cidade acompanhou". "Ante a indiferença de alguns e pesar de outros..."