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O anúncio da desistência de Joe Biden de tentar a reeleição, embora inédita no Partido Democrata, não chega a ser surpresa. A pressão sobre ele já estava quase insustentável, com aliados políticos de peso como Barack Obama e Nancy Pelosi defendendo sua retirada da campanha.
Após uma sequência de eventos nas últimas semanas que corroeram sua campanha e alavancaram a de Donald Trump, a saída de Biden era o único fato novo possível para uma virada de maré capaz de manter as chances de vitória democrata.
Sem Biden na disputa, Trump perde o adversário que lhe seria mais favorável. Idade e saúde física e mental não serão mais argumentos na retórica do candidato republicano.
Biden teve a habilidade política de indicar o caminha para uma substituta. Com o presidente americano declarando já de cara apoio a Kamala Harris, diminui a margem para uma disputa interna que poderia levar a uma fissura entre os democratas, o que seria fatal contra republicanos tão engajados na candidatura de Trump.
Kamala é a escolha óbvia. Optar por outro nome seria começar uma campanha do zero, com um outro nome a ser construído nacionalmente a menos de quatro meses da eleição e sem as doações de campanha já arrecadados pela chapa Biden/Harris.
A dúvida maior deve girar em torno de quem será vice na chapa com Kamala. Josh Shapiro, governador da Pensilvânia (um swing state), larga com uma pequena vantagem em relação aos outros governadores democratas cotados.
Caso seja de fato escolhida, a vice-presidente pode ser a lufada de esperança para os que são contrários à volta de Trump à Casa Branca. Um nome que pode convencer os eleitores indecisos a saírem de casa para votar em novembro e reequilibrar a balança da disputa eleitoral que já estava pendendo para o candidato republicano após o atentado contra ele.
Joe Biden fez um gesto de grandeza política ao abrir mão da corrida pela Casa Branca. Deu o passo ao lado necessário para que outra pessoa com mais vigor possa seguir. E o fez a tempo de evitar que fosse tarde demais.