Logo O POVO+
Gustavo Glodes Blum: Trump e a mudança de regime
Opinião

Gustavo Glodes Blum: Trump e a mudança de regime

Os chamados "pesos e contramedidas" dos outros poderes federais, como o Congresso e a Suprema corte, foram gradualmente restringindo governos democratas e sendo lenientes com Trump. Obama enfrentou várias ameaças de impeachment, enquanto Trump, na presidência, foi liberado pelos juízes da Suirepam corte americana para atuar sem medo de constrangimentos legais
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Gustavo Glodes Blum. Internacionalista, doutor em Geografia (IG-Unicamp) e mestre em Geografia (PPGGeografia-UFPR). (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Gustavo Glodes Blum. Internacionalista, doutor em Geografia (IG-Unicamp) e mestre em Geografia (PPGGeografia-UFPR).

A reeleição de Donald Trump à presidência dos EUA anunciou um novo momento na política americana, assim como o fim de um grande ciclo político no país. Ao mesmo tempo em que os republicanos se preparam para controlar não apenas a Presidência, mas também o Senado e a Suprema Corte, o país experimenta, pela primeira vez, a sua transformação em um regime presidencial. Ela consagra uma tese que se tornou majoritária no partido republicano de fortalecimento de um poder executivo conservador e nacionalista.

Num país construído com base em comunidades políticas sobretudo locais e regionais, o cargo de presidente do país sempre não era um ativo político interno, mas uma representação externa. Os presidentes que enfrentaram desafios internos, como a Crise de 1929, o aumento dos casos de câncer ou a violência urbana, sempre apelaram para a figura da guerra para que pudessem usar poderes extraordinários para resolver questões internas.

Da mesma forma, os chamados "pesos e contramedidas" dos outros poderes federais, como o Congresso e a Suprema corte, foram gradualmente restringindo governos democratas e sendo lenientes com Trump. Obama enfrentou várias vezes crises de orçamento por parte da oposição republicana sob risco de impeachment. Trump, por sua vez, foi liberado pelos juízes do supremo americano para atuar sem medo de constrangimentos legais durante a presidência.

Durante o século XX, a lealdade política dos americanos estava ligada sobretudo às suas regiões ou aos seus Estados. A partir de 2001 há uma quebra importante na realidade daquele país: a insegurança externa face ao terrorismo internacional foi seguida da insegurança econômica causada pela crise de 2008. A pandemia de Covid-19 trouxe à tona a incapacidade de dar acesso, em todo o país, à saúde de maneira universal.

O lema da campanha, "Trump vai dar um jeito", fundamenta esta expansão do poder presidencial nos EUA. Estão abertos os caminhos para que a presidência nos EUA seja plenamente capaz de alterar a realidade interna do país, independentemente das consequências - graves - que isso pode trazer para o país e o mundo.

 

O que você achou desse conteúdo?