Tricia Hersey, americana de Chicago, artista, poeta, teóloga e líder comunitária é autora do livro que toma o título deste artigo. Durante toda a obra, insiste que, com a dominação do trabalho do negro naquela sociedade, atrelado ao afã do capitalismo de sempre lucrar mais com menores custos, mesmo após a gradativa libertação das pessoas de pele preta, restou inculcado na sociedade ocidental como um todo, inclusive por força do "soft power", a ideia de que descansar, sonhar e ser feliz são posturas e sentimentos que erroneamente levam à ideia de culpa.
No espaço Ciência&Saúde deste periódico, de 13/4/2025, vê-se em recorte que "Parar também é progresso - A Revolução pelo descanso". Opina a psiquiatra Emanuella Feitosa que: "É preciso parar, pensar, processar, reaprender, desconectar-se e ter momentos de silêncio".
Somos bombardeados a todo momento pelo discurso da produtividade, das metas, dos "rankings", no trabalho, na família, nas redes sociais, estas últimas que a muitos escravizam com um imperativo constante de intervenções, "likes", "hates" e da necessidade de se divulgar uma vida perfeita, de perene felicidade e permeada tão somente por êxitos e conquistas, quer nas relações sociais, familiares e profissionais. Quem já se deu ao trabalho de contar quantas vezes por dia se lança mão do celular, no qual sempre haverá uma ou várias tarefas a cumprir para se estar em dia com as múltiplas postagens? Essa ideia da produtividade em busca do lucro, advinda do capitalismo, entremeou-se no serviço público, exigindo jornadas não só no local de trabalho, mas também no recesso do lar, vedando-se o direito de se desplugar, para se ter o descanso e poder sonhar.
Dizia Chaplin: "Não sois máquinas. Homens é que sois". É necessário, diz Tricia Hersey, descansar os olhos todos os dias por meia hora, exigindo-se o espaço para apenas existir.
"Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa, a vida é tão rara... até quando o corpo pede um pouco mais de alma, eu sei, a vida não para, a vida é tão rara!" (Lenine)