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Plínio Bortolotti: Bancada da bala reage a decreto do governo
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Plínio Bortolotti: Bancada da bala reage a decreto do governo

Entre os abusos que reconhece, estão os "esculachos", a tortura psicológica e a violência física. "Me arrependo de 90% das abordagens que fiz", diz ex-policial militar que atuou três anos em São Paulo
Tipo Opinião
Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO  (Foto: O POVO )
Foto: O POVO Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO

Após seguidos casos de violência policial ocorridos em São Paulo, escrevi que não se tratava de "casos isolados", mas de um padrão de conduta da Polícia Militar, em todo o Brasil.

Anotei que "esculachos", agressões físicas, assassinatos de suspeitos rendidos, que não ofereciam risco aos policiais, sempre foram encarados com naturalidade.

Dia desses, deparei com uma entrevista, na CartaCapital (25/12/20240), com o ator e diretor Luiz Campos. Antes de dedicar-se totalmente às artes, ele foi soldado da Polícia Militar, em São Paulo, por três anos, entre 2010 e 2013.

No espetáculo teatral "Verme", que ele dirige e atua, Campos conta a sua experiência como PM. Entre os abusos que reconhece, estão os "esculachos", a tortura psicológica e a violência física. "Me arrependo de 90% das abordagens que fiz", diz ele.

Segundo Campos, o processo de "desumanização" começa no primeiro dia de treinamento. "Você perde o seu nome e passa a ser identificado por um número. Eu era o 030", relembra. "Os meses seguintes foram preenchidos por castigos físicos e humilhações"

Em outra reportagem (Folha de S.Paulo, 15/12/2024), a economista Joana Monteiro, considerada uma das principais pesquisadoras em segurança pública no Brasil, diz que a letalidade policial começou a escalar "muito" em 2015 e 2016. "Partimos de 3.000 mortes provocadas por policiais para 6.000, e crescendo". Ela considera a Bahia, "um caso assustador", somando 1.699 mortes (2023), o maior número absoluto do Brasil, equivalente ou até superando o número de vítimas em todo os Estados Unidos.

Na tentativa de evitar as seguidas tragédias resultantes de abordagens desnecessariamente violentas, o governo federal emitiu um decreto para disciplinar o uso da força pelas polícias. Um dos itens estabelece que as armas de fogo só devem ser utilizadas como último recurso.

Era esperado que a bancada da bala reagisse com a brutalidade de sempre, garantindo que vai trabalhar para derrubar o decreto. O inacreditável é que pelo menos cinco governadores tiveram atitude parecida. São eles: Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG), Cláudio Castro (RJ), Tarcísio de Freitas (SP) e Ratinho Júnior (PR).

 

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