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Patrícia Soares de Sá Cavalcante: Leia!
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Formada em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), residência médica em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria

Patrícia Soares de Sá Cavalcante: Leia!

Acredito, firmemente, no poder transformador da literatura. Muitas vezes, o que lemos é uma tradução do que sentimos, o que até então éramos incapazes de colocar em palavras. Passamos a compreender melhor nós mesmos, os outros e o mundo
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O escritor Paul Auster, o mestre de 'A trilogia de Nova York', morreu na terça-feira, 30 de abril de 2024  (Foto: RAFA RIVAS / AFP)
Foto: RAFA RIVAS / AFP O escritor Paul Auster, o mestre de 'A trilogia de Nova York', morreu na terça-feira, 30 de abril de 2024

Não sei dizer, precisamente, quando me tornei uma leitora assídua; foi um processo gradual. Sempre tive uma capacidade imaginativa forte, mas, quando criança, frequentemente, dispersava-me durante a leitura, perdendo o fio da meada. No entanto, na maioria das vezes, minha distração transformava-se em devaneios originados das histórias que eu lia.

Quando comecei a fazer análise, há 15 anos, percebi uma semelhança entre a associação livre do pensamento — algo fundamental para que a análise ocorra — e o que acontecia em minha mente, quando eu estava com um livro nas mãos.

Tenho a impressão de que, à medida que fui compreendendo e elaborando essas associações, solidifiquei o hábito de ler e, mesmo quando me perdia nos devaneios, encontrava uma forma de me reencontrar.

Só tomei consciência dessa dinâmica, quando Marina, minha filha mais velha, era pequena. Ao ler para ela, encontrava trechos que despertavam minhas memórias, e novas histórias surgiam dentro da narrativa original, tornando-a mais rica e criativa. Ela, muito perspicaz, perguntava-me: "Mãe, essa parte está no livro?".

Minha primeira leitura do ano foi A invenção da solidão, de Paul Auster. Ele afirma que o livro é apenas um objeto inanimado até que alguém coloque os olhos nele. Cada leitor lê um livro diferente. Cada um fará sua própria leitura a partir de uma perspectiva única, e essa é a beleza da coisa. Considera também que o romance é o único lugar no mundo onde dois estranhos podem se conhecer intimamente.

Outro fato interessante é que podemos ler o mesmo livro em momentos diferentes de nossas vidas e o que captamos da obra pode ser distinto a cada leitura. Podemos nos surpreender com um "novo" livro.

Acredito, firmemente, no poder transformador da literatura. Muitas vezes, o que lemos é uma tradução do que sentimos, o que até então éramos incapazes de colocar em palavras. Passamos a compreender melhor nós mesmos, os outros e o mundo.

Eles estão aí: Machado de Assis, Proust, Dostoievski, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Gabriel García Márquez, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, Tolstói, Saramago, entre tantos outros. Abra-os, dê-lhes vida, transforme-se.

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