— Você viu a nova ordem? Cientistas agora precisam de autorização até para apresentar pesquisas.
— Sim, e temo perder meu financiamento para estudos sobre clima e saúde pública.
— Estamos voltando à
Idade Média?
— Não. Estamos na era Trump.
Esse tipo de conversa se tornou comum entre pesquisadores desde a posse de Trump. O novo governo já sinalizou um ataque sistemático à ciência: censura, intimidação e bloqueio de pesquisas que não se alinham à sua agenda ideológica.
Como pesquisador em doutorado sanduíche na Europa, percebo que essa apreensão vai além dos EUA. Em laboratórios, salas de aula e congressos, como o que participei na Universidade de Barcelona, a grande preocupação era o impacto do imperialismo americano na ciência do Sul Global e o risco de que esse cerceamento se espalhe, comprometendo colaborações e autonomia científica.
Enquanto isso, as big techs lucram com a polarização. Algoritmos escondem conteúdos científicos, enquanto teorias conspiratórias se espalham livremente, transformando a desinformação em arma política contra políticas públicas pautadas em evidências.
O negacionismo não é só divergência. Ele enfraquece sociedades e ameaça vidas. Durante a pandemia, vimos a ciência ser atacada com consequências devastadoras. Agora, enfrentamos mais uma onda de retrocessos que pode retardar avanços essenciais. Como pesquisador, não posso aceitar que ideologias sufoquem a ciência. Defendê-la é um compromisso coletivo que precisa ser travado antes que seja tarde demais.