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Plínio Bortolotti: Previdência, Lula e o preço do desgaste
Opinião

Plínio Bortolotti: Previdência, Lula e o preço do desgaste

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É voz corrente na imprensa que a situação do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), é insustentável, e que a queda dele é iminente. Alguns analistas afirmam “não entender” por que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não abrevia a agonia do auxiliar, demitindo-o para evitar mais problemas para o governo.

O argumento que Lula sofreria desgastes evitáveis parte de jornalistas acostumados com Brasília, por isso surpreendentes, pois a questão não se resume a demitir um ministro, mas como e quando fazê-lo, sem ofender aliados.

Da forma como as análises são feitas, fica a impressão que Lula é um político ingênuo, que poderia resolver o problema facilmente, com uma canetada, sem sofrer maiores consequências, mas hesita em tomar a decisão.

Essa mesma situação aconteceu com o ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho, do União Brasil (UB), legenda que também faz parte da base aliada. Por pressão do UB, Lula não demitiu Juscelino, nem mesmo quando ele foi indiciado pela Polícia Federal. O presidente esperou — suportando a pressão — até a denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Lula sabia o preço que estava pagando para manter Juscelino e sabe a conta a ser paga para segurar Lupi. Mas ele sabe também que chegaria outro boleto se demitisse rapidamente Juscelino; como irá confrontar-se com uma fatura salgada se afastar Lupi, contrariando o PDT.

E essa dívida a saldar chama-se “governabilidade”. O depauperado “presidencialismo de coalizão” exige acordos nem sempre transparentes, estômago para engolir sapos e, algumas vezes, um conveniente fechar de olhos.

Essas são as variáveis com as quais Lula tem de se preocupar para manter o governo funcionando, com uma base precária no Congresso Nacional. Alerta: não estou manifestando concordância com o método, o que faço é narrar o jogo.

A propósito da roubalheira no INSS, Carlos Lupi propôs acabar com os descontos em folha em favor das associações. Uma boa diretriz. Mas por que ele não a implementou, em dois anos à frente do Ministério da Previdência?

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