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Wanessa Brandão: Porque não comemoramos o Dia 13 de maio?
Opinião

Wanessa Brandão: Porque não comemoramos o Dia 13 de maio?

Devemos observar a abolição da escravidão pelo viés da resistência, considerando a longa duração. Durante os anos de escravização houve sim muita resistência, fundamental para o início da institucionalização da pauta negra no país
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Wanessa Brandão. Doutoranda em Sociologia (UFC) e integrante do Conselho de Leitores O POVO 2025. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Wanessa Brandão. Doutoranda em Sociologia (UFC) e integrante do Conselho de Leitores O POVO 2025.

O Brasil ter sido o último país a abolir a escravidão é uma das evidências mais significativas para revelar a realidade que se estabelecia, um projeto político de nação elaborado para manter a população negra fora do novo mundo. A população negra continuou excluída e discriminada, enfrentando desafios como o racismo e as desigualdades raciais. O dia 13 de maio começa como uma Lei, chamada Áurea, mas não se efetivou na prática. No dia seguinte, 14 de maio, o que se via era o abandono, a fome, as pessoas sem casa, sem emprego.

Observando os números, conseguimos assegurar as marcas da conta que não fecha: 388 anos de escravização ainda estão competindo com apenas 137 anos de abolição. 75% das vítimas de homicídio segundo o Atlas da Violência são negras. Em 2023, conforme o IBGE, pessoas negras representam 73% de pobres e extrema pobreza no país, a mortalidade infantil entre negros é cerca de 20% maior que entre brancos e o acesso a serviços de saúde de qualidade é cerca de 35% menor nas áreas rurais e comunidades quilombolas.

Devemos observar a abolição da escravidão pelo viés da resistência, considerando a longa duração. Durante os anos de escravização houve sim muita resistência, como a organização dos quilombos, a Frente Negra Brasileira (década de 1930), o Teatro do Negro Experimental (década de 1940) e a organização do Movimento Negro Unificado, em 1978. Manifestações como a Marcha Zumbi dos Palmares (1995) e a Conferência de Durban (2001) foram fundamentais para o início da institucionalização da pauta negra no país, junto ao Estado.

Assim, refletir sobre a data do 13 de maio é assumir uma postura questionadora, considerando a importância de abordagens antirracistas e interseccionais. Lembremos que nós somos os (as) protagonistas de nossa história, tal como foi Zumbi dos Palmares, Dandara, Luiza Bairros, Lélia González, Beatriz Nascimento, Abdias do Nascimento, Marielle Franco, Sueli Carneiro e tantos outros(as). Cada conquista é coletiva e fruto de uma luta árdua.

O 13 de maio, portanto, deve ser lembrado não como sinônimo de libertação, mas de uma luta extensa pelo direito de ser. Abolição para nós, povo negro, é um processo inacabado, que nos impulsiona a lutar por políticas públicas e responsabilidade com a mudança das estruturais coloniais em curso.

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