No contexto socioeducativo de jovens de baixa renda não é incomum o desinteresse dos alunos pelas matérias ministradas em sala de aula, o que muitas vezes pode levar ao rendimento acadêmico precário. Essa atitude ocorre devido a diversos fatores, principalmente pela falta de perspectiva dos adolescentes com relação à utilidade dos conteúdos vistos em sala de aula.
Para contrapor essa realidade desafiadora de descaso e evasão escolar foi instaurado o programa Pé-de-Meia, que paga quantias fixas a alunos que, além de se matricularem no Ensino Médio, tenham pelo menos 80% de frequência a cada mês, podendo totalizar ao final dos três anos a quantia de nove mil e duzentos reais por aluno, segundo o Ministério da Educação. Algumas das consequências imediatas observadas no ambiente escolar após essa medida foram a diminuição das taxas de evasão e o incentivo à assiduidade dos alunos.
Apesar dessas consequências aparentemente satisfatórias, muitos jovens da rede de ensino do estado do Ceará não possuem uma motivação genuína, baseada em planejamento profissional, para continuar os seus estudos, mas tão somente a expectativa de obter esse auxílio.
Enquanto acadêmica do curso de Psicologia, tive a oportunidade de realizar uma atividade de campo fazendo pesquisa participativa com um grupo de adolescentes de uma escola pública do nosso estado e escutar de um desses jovens a frase título deste artigo.
Diante desse cenário, muitas questões surgiram: o que fazer quando não há o desejo de aprender? Como despertar o interesse dos jovens pelos conteúdos vistos em sala de aula? O que é ensinar e o que é aprender? O que faz um aluno aprender? Lembro aqui de Sigmund Freud quando nos diz que é a partir da análise da relação professor-aluno que podemos pensar no que faz um aluno aprender.
Portanto, é preciso pensar a forma como programas como o Pé-de-Meia dialogam com jovens provenientes de realidades mais vulneráveis e estigmatizadas assim como o entendimento dos aspectos psicossociais/afetivos construídos em decorrência dessas vivências.