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Plano de fuga entre reborns e tigrinhos
Opinião

Plano de fuga entre reborns e tigrinhos

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Rolando o feed do Instagram, encontrei post que me arrancou um riso genuíno: uma versão cômica de “Águas de Março” sobre os assuntos do momento. “É papa, é Gaga, é o fim do caminho. O baby reborn, o jogo do tigrinho. É o dix, é o pix, é o daily, é o priv. É o FOMO, hiperfoco, Mounjaro, Ozempic” Os versinhos ficaram martelando como uma trilha sonora metalinguística enquanto eu gastava mais alguns minutos entre um meme e outro. E assim perdi uma hora inteira numa noite de terça-feira.

De sobressalto, veio uma culpa, pois esses 60 minutos consumidos vão na contramão do acordo que fiz comigo mesmo para este ano. Estabeleci um compromisso de ler mais livros em 2025. A decisão foi tomada após me dar conta de que 2024 foi meu ano mais distante da literatura – o que não significa que não li conteúdos virtuais bem escritos e reportagens incríveis. Mas o contato com o livro em si, sobretudo com as narrativas de ficção, ficou em falta.

Por isso mesmo, hoje a literatura tem sido uma prioridade e reorganizei minha rotina. A obra da vez é “Oração para desaparecer”, do nosso orgulho cearense Socorro Acioli, cuja trama com ares fantásticos me ganhou desde a primeira linha.

Fora das páginas, um roteiro com toques de fantasia nos cerca. Prova disso foi a farra semiótica do depoimento da influenciadora Virgínia Fonseca na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das bets (Indico o texto “O tigrinho fofinho de Virgínia Fonseca rugiu na CPI das Bets”, de Larissa Viegas, publicado aqui no O POVO). Quantos símbolos nada reais cabem num debate tão concreto como a ferida social do vício em jogos destruindo a vida de brasileiros?

E os bebês reborn, hein? Sobre esse fenômeno, resolvi me alienar. Pouco sei sobre a febre do momento. Longe de mim, enquanto jornalista cultural, defender a desinformação e hierarquizar conteúdos que valem ou não a pena analisarmos. Mas, diante de tanto tema pairando no ar, foi necessário fechar os olhos para alguns.

Por isso mesmo, tenho me apegado à literatura na tentativa de desacelerar essa rotina de consumo de informação. As “águas de março” virtuais são uma cascata que não para de jorrar. Fica difícil se aprofundar. Com livro à mão, vou parafraseando Eduardo Galeano em “O Livro dos Abraços” (outra obra que já atravessou este 2025) e “me ajudando a olhar” o mundo para além do feed acelerado. Tenho falhado bastante, mas seguirei insistindo.

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