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Gustavo Glodes Blum: O putinismo faz vinte e cinco anos
Opinião

Gustavo Glodes Blum: O putinismo faz vinte e cinco anos

A chegada de Vladimir Putin ao poder foi marcada pelas crises herdadas não apenas pelo esfacelamento da União Soviética, mas também pela doutrina de choque aplicada nos anos 1990 pelo seu antecessor, Boris Yeltsin
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Gustavo Glodes Blum. Internacionalista, doutor em Geografia (IG-Unicamp) e mestre em Geografia (PPGGeografia-UFPR). (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Gustavo Glodes Blum. Internacionalista, doutor em Geografia (IG-Unicamp) e mestre em Geografia (PPGGeografia-UFPR).

No último dia 9, reuniram-se em Moscou chefes de governo e chefes de Estado de 29 países para celebrar o fim da Segunda Guerra Mundial. Há, porém, uma outra efeméride a ser lembrada no ano de 2025. É este o ano que marca o quarto de século durante o qual o presidente russo, Vladímir Putin, chegou ao poder naquele país.

Sua chegada ao poder foi marcada pelas crises herdadas não apenas pelo esfacelamento da União Soviética, mas também pela doutrina de choque aplicada nos anos 1990 pelo seu antecessor, Boris Yeltsin. Um país que era ao mesmo tempo detentor do maior arsenal de armas nucleares e, portanto, de alta tecnologia, era também um dos que menos conseguia criar empregos qualificados e um dos mais desiguais do mundo dez anos após o fim da URSS.

Foi nesse cenário que a figura de Putin foi se consolidando. Inicialmente, assumiu o poder após a renúncia de Yeltsin no último dia de 1999. Mas, a partir da sua eleição no mês de março de 2000, iniciou uma trajetória de remoldar a Rússia no entorno de uma palavra: estabilidade.

Na sua visão, as crises que se aplacavam sobre o país advinham tanto da discórdia entre diferentes grupos sociais, quanto da incapacidade do governo central russo de resolver questões pendentes na transição para a economia de mercado e a democracia. Putin enfrentou duas importantes guerras contra os separatistas da Chechênia, tanto quando era vice de Yeltsin quanto quando já era presidente.

Por meio da cooptação das lideranças étnicas, Putin começou a sua construção da estabilidade à la russe: trouxe os chechenos e outros jihadistas para o exército russo com autonomia de força, mantendo a família Kadyrov no poder na região. Ao trazer a Igreja Ortodoxa Russa mais próxima ao poder, Putin conseguiu moldar uma ideia de autoridade moral num modelo cesaropapista, em que o poder religioso e o poder político se ajudam. Esse apoio religioso é mais simbólico que político, já que assim como outras igrejas, muitos russos se declaram ortodoxos mais por pertença cultural que por prática religiosa regular.

Também na economia a busca foi por estabilidade. A lógica econômica foi primeiro a da criação de empregos qualificados, para evitar a fuga de trabalhadores com grande profundidade de estudos. Também apostou no efeito multiplicador do extrativismo energético, aproveitando dos grandes volumes de moeda estrangeira originária da exportação de petróleo e gás. Mais recentemente, a exploração de terras raras e a recuperação do complexo industrial-militar foram suas apostas.

Todo este processo, porém, depende da estabilidade e, portanto, do fim do dissenso. Por isso aprofundou-se na Rússia uma luta pela estabilidade social que também passou pela perseguição aos extremos. À direita e à esquerda, críticos do putinismo encontraram-se às voltas com perseguições jurídicas e impedimentos para concorrer às eleições. O putinismo, neste último quarto de século, buscou a estabilidade. Resta pensar se será estável após o fim de seu líder maior.

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