No início de maio, o conclave composto por 133 cardeais surpreendeu o mundo ao eleger Robert Francis Prevost como o novo papa, tornando-o o primeiro pontífice estadunidense da Igreja Católica. A eleição do papa Leão XIV, nome adotado pelo cardeal Prevost, marcou uma decisão estratégica sobre os rumos futuros de uma das instituições mais influentes do planeta.
Nascido nos Estados Unidos, o cardeal era considerado como uma opção pouco viável para o colégio eleitoral do Vaticano em razão do histórico afastamento entre os EUA e a Igreja Católica. Contudo, não foi o que ocorreu e, logo após a revelação do novo papa, pairaram nas redes certas apreensões: o que um papa estadunidense significaria para a Igreja Católica e para o mundo? As reformas de Francisco e sua mensagem mais progressista seriam mantidas? E mais: como essa escolha dialogaria com um cenário político global cada vez mais tenso devido às políticas disruptivas do governo Trump?
As respostas para tais perguntas começaram a emergir rapidamente. Já em seu primeiro discurso enquanto papa, Leão XIV ressaltou - direta e indiretamente - seus princípios e objetivos. Com frases em espanhol, o papa atenuou a preocupação de parte dos católicos sobre um possível "americanocentrismo", destacando sua relação com a América Latina, região onde morou por décadas e onde adquiriu a cidadania peruana. Também em seu discurso, o papa Leão XIV esclareceu que pretendia conduzir a Igreja de modo a dar continuidade ao legado do falecido Papa Francisco, reforçando reformas internas já iniciadas e intensificando o papel da instituição como mediadora de diálogos e promotora da defesa dos mais pobres.
Sua trajetória parece de fato apontar nessa direção. Ainda que não pareça possuir um perfil essencialmente liberal devido ao suposto acobertamento de agressões sexuais de padres no Peru e de declarações passadas sobre temas como eutanásia, aborto e homossexualidade, o papa tem historicamente promovido os direitos dos povos refugiados, advogado por justiça climática e por melhores políticas migratórias nos Estados Unidos.
Aliás, quanto ao governo Trump, cabe destacar que a eleição do novo papa deve marcar um novo tensionamento nas relações entre Vaticano e os EUA. Em entrevista ainda no fim de abril, o ex-assessor de Trump, Steve Bannon, refletiu sobre o conclave e concluiu acertadamente sobre a possibilidade de eleição de Leão XIV. No entanto, sua mensagem foi de pessimismo, destacando o perfil considerado extremamente progressista do cardeal.
Em que pese os prováveis atritos com os EUA, a escolha do colégio de cardeais parece revelar um cálculo estratégico: a Igreja buscou um perfil que pudesse consolidar as mudanças institucionais recentes, mas também projetar uma liderança capaz de navegar entre polarizações. Leão XIV, com sua dupla-nacionalidade, é o reflexo direto desse interesse pelo fortalecimento a passos sutis da Igreja Católica. Resta agora esperar para ver os resultados de tal estratégia.