Desde a morte de Jorge Bergoglio, a imprensa noticiou os cardeais se reunindo em segredo até decidirem quem será o novo representante de Jesus Cristo na terra. Fumaça branca: Habemus papam! Mas a pergunta que me surge na cabeça é: por que o papa usa sapatos vermelhos de carmesim?
Vermelho é a cor do sangue dos mártires. É simbólico, ok! Mas, por mais que queiram me convencer da espiritualidade desse gesto, não consigo ignorar o contraste gritante entre o símbolo e a origem do ministério que ele representa. Jesus, o filho do carpinteiro, humildemente lavava os pés dos outros e andava de sandálias gastas pelas vilas da Galileia. Já seu representante máximo na Terra caminha em passarelas sagradas com calçados que fariam inveja a um Gianni Versace!
Não me incomoda o vermelho, em si. Me incomoda a pompa que veste a fé com brocados, mitras, anéis de ouro e gestos solenes tão afetados e afastados do gesto revolucionário de partir o pão com os pecadores. Porque, se bem me lembro, Jesus nunca usou trono, palácio, nem tinha uma residência de férias. Seu púlpito era o chão duro do mundo.
Já não há mais espaço para que a fé continue sendo utilizada como instrumento de negociação entre Estados, políticos e interesses de gabinete. A religião, quando se curva ao poder, trai a sua própria essência. Estou cansada de ver o sagrado sendo vestido como espetáculo. Sim, o papa é pop. Sempre foi. Todavia, ele poderia ser pop porque calça os pés da compaixão, porque julga menos quem é digno de contrair matrimônio, ou quem mereça receber a hóstia consagrada... Pop porque não precisa de sapatos vermelhos para provar a sua autoridade, porque os pés que seguem os passos de Jesus não precisam de luxo, nem de ostentação. Precisam apenas caminhar com pressa para atender os mais necessitados, aqueles que têm fome de fé, alimento e afeto.