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Leonardo Fernandes: Índia x Paquistão e o retorno do fantasma nuclear
Opinião

Leonardo Fernandes: Índia x Paquistão e o retorno do fantasma nuclear

O conflito abala a coesão dos Brics, já que a Índia se soma à Rússia como mais um membro envolvido em guerra aberta. A China observa tudo, pois sua prioridade estratégica é a reunificação com Taiwan, considerada uma província rebelde
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Leonardo Fernandes. Cientista político, mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Leonardo Fernandes. Cientista político, mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí.

O mundo despertou em 8 de maio de 2025 diante de um grave conflito entre duas potências nucleares: Índia e Paquistão. O confronto, que parecia contido, reacendeu após um atentado em Pahalgam, na Caxemira indiana, que deixou dezenas de mortos e reacendeu antigas rivalidades. A Índia responsabilizou o Paquistão pelo apoio a grupos insurgentes, o que Islamabad nega. A resposta foi imediata: ataques aéreos indianos contra alvos em território paquistanês e retaliações do outro lado da fronteira.

A Caxemira, uma das regiões mais militarizadas do planeta, é palco de tensões religiosas, disputas territoriais e da chamada "guerra da água", já que os rios da região são vitais para ambos os países. O temor de uma escalada nuclear nunca esteve tão presente: Índia e Paquistão possuem arsenais consideráveis, e enquanto a Índia adota uma política de "não uso inicial", o Paquistão não segue a mesma doutrina, aumentando o risco de escalada inadvertida.

Esse episódio ocorre em um contexto internacional já profundamente instável. A ordem global, estressada pela guerra na Ucrânia e pela intensificação do confronto entre Israel e Palestina, enfrenta mais um desafio. Em 2025, pelo menos 59 conflitos armados estão ativos ao redor do mundo, evidenciando a crescente fragmentação e a dificuldade das instituições internacionais em promover estabilidade.

O conflito abala a coesão dos Brics, já que a Índia se soma à Rússia como mais um membro envolvido em guerra aberta. A China observa com atenção, pois sua prioridade estratégica é a reunificação com Taiwan, considerada por Pequim uma província rebelde. O discurso chinês tem endurecido, abandonando a retórica da "reunificação pacífica".

O cenário asiático torna-se ainda mais tenso e imprevisível, com múltiplas frentes de instabilidade. Em meio a esse panorama, o mundo se despede de Joseph Nye, um dos mais influentes pensadores das relações internacionais e criador do conceito de "soft power". Nye defendia que, em um mundo interdependente, a influência exercida por cultura, valores e diplomacia era tão estratégica quanto o poder militar. Sua morte ocorre em um momento em que a necessidade de contenção e diálogo é urgente. Seu legado é um lembrete de que a força das ideias pode ser decisiva em tempos de crise.

No Vaticano, um novo capítulo se inicia com a eleição do papa Leão XIV. Em sua primeira mensagem, o novo pontífice fez um apelo à paz, lembrando que "a paz esteja com todos vocês" deve ser mais que uma saudação: um compromisso coletivo. Diante de um mundo conflagrado, Leão XIV terá muito trabalho pela frente. Em tempos de cada vez menos paz, será preciso rugir por diálogo e esperança em meio ao estrondo das armas.

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