Arraste aí uma cadeira no meio do quintal, do alpendre ou da cozinha. Vamos vivenciar lembranças da vovó Adauta Gonçalves Melo preparando nosso cuscuz com leite de coco.
O primeiro utensílio é uma bacia média de ágata, que já tinha passado por outras gerações e estava bem desgastada pelo tempo.
Vamos agora descrever o rapa coco. Um simples utensílio consegue levar nossa memória afetiva para uma viagem de cheiro e sabores.
Feito de um pedaço de madeira e na ponta como se fosse uma colher com garras afiadas pregadas com dois pregos. As raspas do coco cintilavam como nuvens, branquinhas e saborosas. Por sorte do destino, nossa casa fica também no quintal, separada apenas por um pé de carambola. Então, nossa doce convivência era diária. Por isso, concordo quando dizem: casa de vó nunca é longe, é dentro da gente.
Na preparação do cuscuz, que a gente também chamava pão de milho, a massa já estava em outra bacia de ágata, coberta com um pano de prato branquinho descansando um tempinho para crescer e ficar mais fofinha.
Agora, a mão da vovó vai misturando a massa de milho, o coco ralado e levando para a cuscuzeira. O cheirinho já vai invadindo todos os cômodos da casa e, claro, nosso quintal afetivo.
E o café no bule, coado com pano, completava nossa felicidade. E café tem cheiro de conversas, de prosa, de oração, de vida.
O sabor, a preparação, o cheiro, a fumacinha anunciando que o cuscuz está pronto, continua sendo uma conexão do coser, dos afetos construídos ao redor de uma mesa. Da partilha, do amor e da união. Da presença de Jesus, convidado sempre especial na nossa mesa.
E a gente não precisa de nenhum esforço para voltar nesse tempo saboroso. Basta lembrar do cuscuz que a vida volta a ser simples, feliz e saltitante de alegrias.
E a bacia de ágata vai resistindo ao tempo e contando novas histórias, partilhando sabores nas cozinhas desse mundo de meu Deus. n