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Quem Marina pensa que é?
Opinião

Quem Marina pensa que é?

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“Se ponha no seu lugar”, exigiu o senador Marcos Rogério (PL-RO) à ministra Marina Silva, passando a dar-lhe aulas de boa educação. Como ela ousa, mesmo sendo ministra de Estado, rebelar-se, afirmando ser uma mulher insubmissa?

Talvez falte a Marina a etiqueta que Marcos Rogério exige porque deve ter lhe faltado tempo para frequentar uma escola de boas maneiras, enquanto punha em risco a sua vida para defender a floresta amazônica.

Mas qual parte ela não entendeu da lição que autoriza os homens brancos e poderosos a se valerem de seus privilégios machistas quando são confrontados por uma mulher?

Sua excelência, portanto, agiu dentro das prerrogativas garantidas por direito de nacença. Como uma mulher preta, que já foi empregada doméstica, se atreve a enfrentá-lo de igual para igual?

E o senhor, senador Plínio Valério? Como líder do PSDB, um partido fundado por intelectuais bem-educados, o sr. ficou com a obrigação de dar bons exemplos. E assim o fez.

Em sua intervenção, sua excelência fez bem ao dizer a Marina que iria “separar a mulher da ministra”. Para, como o sr. bem explicou, respeitar a mulher e desrespeitar a ministra.

Parabéns, o sr. foi muito inteligente, pois ninguém pode agora chamá-lo de misógino, mesmo depois das violentas palavras que sua excelência dirigiu à ministra. Seu corte foi cirúrgico.

É certo que o sr. já chegou à sessão da Comissão de Infraestrutura, que ouvia Marina, com um passivo, lembrado por ela.

Há pouco mais de um mês, falando a empresários do Amazonas, o sr. pediu à plateia para imaginar o que seria “ficar com Marina seis horas e dez minutos sem ter vontade de enforcá-la”.

Denunciado à Comissão de Ética, ainda bem que o sr. esclareceu o caso, dizendo tratar-se de uma “brincadeira”, pois hoje o pessoal do politicamente correto entende tudo literalmente.

O sr. também defendeu-se da acusação de ser machista com um argumento irrespondível: disse que casou-se duas vezes, tem três filhas, uma enteada, seis netas e três irmãs. Claro, ninguém vai atentar para a loteria genética. E, afinal, senador, todos temos mãe, não é mesmo?

A propósito, o sr. fez bem em não pedir desculpas a Marina. Quem ela pensa que é?

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