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Evento privado, barulho público
Opinião

Evento privado, barulho público

Não é ser contra eventos ou o uso do espaço público. O Aterro da Praia de Iracema é palco recorrente de shows, encontros religiosos e manifestações culturais - todas com barulho garantido, mas em horários, digamos, republicanos
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Pati Rabelo. Roteirista. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Pati Rabelo. Roteirista.

No domingo passado (25), a Praia de Iracema acordou no susto às 5h da manhã. Os despertadores? Música no talo, microfone berrando e - por inacreditável que pareça - uma bateria de escola de samba. Não, não é metáfora. Uma bateria. De escola. De samba. Tocando por uns 40 minutos sem parar.

Tudo por conta da 12ª edição do Circuito de Corridas Pague Menos - evento privado, com inscrições pagas e patrocinadores - que decidiu: o direito à corrida de uns vale o sacrifício da paz e do sono de outros. Um dia antes, no sábado (24), às 6h40 da manhã, também teve música alta e microfone, numa espécie de avant-première do que estava por vir.

O ponto aqui não é ser contra eventos ou o uso do espaço público. O Aterro da Praia de Iracema é palco recorrente de shows, encontros religiosos e manifestações culturais - todas com barulho garantido, mas em horários, digamos, republicanos. Porque, né, viver em sociedade pressupõe uns combinados básicos. E o respeito ao direito do outro é um deles.

Que conceito de "bem-estar" é esse que impõe violência sonora a tanta gente? Muitas pessoas só podem dormir um pouco mais no fim de semana. E, honestamente, não vejo um motivo razoável para que essa prática da Pague Menos seja naturalizada. Entendo menos ainda como - e por que - a Prefeitura autoriza algo tão evidentemente abusivo.

Imagine a cena inversa: você participa da corrida, volta pra casa exausto, toma banho, liga o ar-condicionado, se deita e... pá! Seu vizinho mete uma bateria de escola de samba na sua janela. Ou um DJ pra comandar a festa.

Voltando àquele sábado, às 7h16, mandei mensagem para a Pague Menos da Ildefonso Albano, em frente ao Aterro. A resposta só veio oito horas depois: "A Pague Menos não é responsável, e sim o pessoal do evento". Juro (tenho prints). Liguei pro SAC. Nada. Mandei e-mail. Jamais responderam. Quando deveriam se manifestar, fazem silêncio.

Espero que, nas próximas edições dessa corrida (e, por que não dizer, da corrida Pão de Açúcar e do Ironman), o respeito ao direito alheio também esteja na lista de patrocinadores. E que a Prefeitura esteja de olhos - e ouvidos - bem atentos.

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