O judeu, pesquisador, antropólogo visual e ativista cultural, Alex Minkin parece propor, mais do que afirmar, uma inquietante pergunta: o que é o Brasil? Ele constrói uma poético, imagético, sonoro e gestual narrativa sobre cruzamentos entre diásporas e ancestralidades que se enredaram na formação do país. Seu documentário Saravá Shalom (2025,1h40 de duração), filmado ao longo de três anos numa produção colaborativa entre Brasil, Estados Unidos e Portugal, não busca respostas fáceis.
Pelo contrário: aposta na força da interrogação sensível como método e epistemologia para romper silêncios históricos e dar corpo à pluralidade das experiências judaicas no Brasil. Mais do que indagar sobre o país, Minkin acaba também provocando uma reflexão o que é ser judeu? Onde e como a tradição judaica se entrelaça às tradições negras e indígenas que compõem o mosaico brasileiro?
O Brasil se ergueu e ainda se ergue como uma grande encruzilhada, um ponto de encontro de memórias e legados diversos. E há, entre essas tradições, algo que pulsa em comum: a centralidade da ancestralidade.
No candomblé, dança-se em sentido anti-horário, reverenciando o passado e honrando o tempo como memória viva. Os orixás são homens e mulheres ancestrais divinizados, forças que atravessam as gerações e permanecem presentes. No judaísmo, também não há identidade sem ancestralidade. Carregamos em cada prece a lembrança de Avraham e Sara, Itzhak e Rivka, Yaakov, Rachel e Lea. O judaísmo, em sua essência, é um exercício de memória.
Nas tradições indígenas, essa lógica é ainda mais visceral. Identidade, ancestralidade e territorialidade não são dimensões distintas são a própria substância do existir. O território não é um pano de fundo, mas o corpo da comunidade, o espaço onde o tempo se materializa e a memória se faz presente.
Sabemos que a memória judaica no país não começa com a República e que o judaísmo se expressa em uma miríade de formas. Sem a arte, dificilmente seríamos capazes de imaginar a complexidade dessas vivências isolados em nossos mundos, comunidades e preconceitos.