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Por favor, Marina, não desista
Opinião

Por favor, Marina, não desista

Marina e quem conhece um pedaço de floresta conseguem ver o quanto a ganância e a falta de limites sobre o ambiente podem causar em termos de destruição e danos irreparáveis para os povos da floresta e para todos nós
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Há cerca de três anos, visitei o Acre com meu marido que é acreano. Enquanto viajávamos pelo estado, para visitar a casa de Chico Mendes, em Xapuri, e outras cidades até a fronteira com a Bolívia, foi possível ver o quanto de floresta amazônica se transformou em nada para dar lugar a pasto para criação de gado e equinos. A floresta parece uma miragem, fica a uma distância tremenda dos olhos, numa linha verde quase imperceptível. Aqui acolá, uma castanheira sozinha e triste, assiste ao trabalho manso do gado, que escorrega lentamente pela pastagem.

Essa paisagem veio à minha mente, semana passada, enquanto acompanhava a repercussão das cenas de horror a que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi submetida no Senado. Depois, lembrei-me da sensação de estar no meio de um braço de floresta no Parque Ambiental Chico Mendes, em Rio Branco. É tão emocionante ver árvores gigantes, imponentes, perceber como elas se espraiam pela mata densa, onde só se escutei o sussurro leve de folhas, o som das aves, o murmúrio da água que escorria nas entranhas da terra, no trecho onde estava.

Fiquei tão emocionada que chorei diante daquelas árvores. É preciso ter uma dose grande de crueldade para colocar milhares delas abaixo. Passei um tempo numa casa de seringueiro erguida no meio da floresta praticamente igual à do Chico Mendes, que não pude entrar. Estava fechada desde que o governador bolsonarista Gladson Camelí (PP) assumiu o governo em 2019 e foi reeleito em 2022.

Na pousada dos Xapuris, onde nos hospedamos, soube que as visitas ao município, principalmente de estrangeiros, eram um incômodo para Camelí. A luta de Chico Mendes para explorar de forma sustentável a floresta uniu os povos da mata, como ele chamava os seringueiros e indígenas. Foi assassinado em 22 de dezembro de 1988, justo por causa desse discurso, pelo fazendeiro Darci Alves Pereira, então com 21 anos. Ele e o pai, Darly Alves, tramaram a morte do ativista. Darci, chamado agora de Daniel, foi até o ano passado, presidente do PL, em Medicilândia, no Pará.

Marina Silva sabe o que está defendendo com unhas e dentes, até mesmo do próprio governo Lula. Ela e quem conhece um pedaço de floresta conseguem ver o quanto a ganância e a falta de limites sobre o ambiente podem causar em termos de destruição e danos irreparáveis para os povos da floresta e para todos nós, que atravessamos uma crise climática. Camelí mandou retirar o nome Maria Silva da Biblioteca Estadual, que fiz questão de visitar.

Os senadores Plínio Valério (PSDB-AM) e Marcos Rogério (PL-RO) representam bem o tipo de poder político que eu vi materializado na floresta devastada do Acre: truculento, insensível, desumano e desrespeitoso, que Mariana Silva já conhece tão bem e sabe de forma tão digna reagir. Por favor, Marina, não desista.

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