A costura promove um movimento silencioso de mãos e olhos, exige o controle imediato dos dedos, caminha na catarse dos pensamentos e repousa solitária em contato com o tecido. Essa catarse preenche os simbolismos que os caminhos das agulhas traçam ao tocar a superfície transformada, ganhando significados comuns e extraordinários entre seus adeptos.
A vida daqueles que vivem da arte de criar com linhas é acompanhada pelo silêncio extraordinário que ampara a brecha no espaço e no tempo entre os pensamentos e o mundo real. Esse cenário toma forma nos mais diversos bairros de Fortaleza, Ceará; não possui rosto, cor de pele, nem modelo ideal de máquina, agulha ou linha.
A democracia da costura repousa na esperança de dias melhores, pois ela é capaz de romper com a violência patrimonial e proporcionar autonomia, mas também é imperiosa ao provocar momentos de reencontro consigo mesmo e ao aproximar-nos daquilo que nos faz mais humanos: criar conexões.
Esse contato entre cores e texturas transforma, há anos, a realidade de centenas de cearenses, principalmente quando lançamos nosso olhar às pessoas em situação de vulnerabilidade social, que, até com retalhos de tecido, driblam a pobreza e remodelam o espaço social em que estão inseridas.
Analisar esses contextos territoriais provoca a conexão entre a catarse e a realidade, expondo, de algum modo, uma relação indissolúvel entre desenvolvimento sustentável e políticas públicas. Essa relação interdisciplinar contempla dimensões sociais, ambientais, econômicas e político-institucionais.
A reutilização de retalhos têxteis, a circulação de produtos e a regeneração da natureza remontam ao poder de transformação social da economia circular, da qual nós, habitantes da Terra da Luz, somos vanguardistas.
E, por essa razão, que façamos ecoeficiência, falemos em sustentabilidade e promovamos a economia circular, sabendo ou não o nome que tudo isso tem, pois, ainda assim, permitimo-nos perder-nos em catarses e acreditar nessas conexões, individuais ou coletivas, na arte de costurar nossos pensamentos ou nossa realidade.