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Concessão democrática
Opinião

Concessão democrática

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Para um ambiente político fragmentado, as mais profundas críticas, estamos reféns de um estado de coalizão entre plutocratas, o povo do dinheiro, e cleptocratas, os agentes da roubalheira e corrupção. O pragmatismo dilacera a consciência racional, destrói referenciais éticos quando tentam justificar práticas espúrias em nome de supostos avanços. Os autorreferidos líderes "progressistas" não só pararam de pensar, como se transvestiram de autocratas, a ordem é desidratar aliados e sufocar qualquer tipo de oposição.

Neste cenário de degradação, torna-se urgente a valorização das concessões democráticas para o enfrentamento do mais ácido radicalismo ao mais cínico populismo. Trazer representantes do bolsonarismo ao centro democrático é uma ação que exige coragem política. É essa a virtude nos gestos de Ciro Gomes e Roberto Cláudio. Acusados de aproximação com a extrema-direita, o que se vê, é um movimento de extraordinário espírito público, dialogar com os radicais para resgatar a racionalidade como fundamento do pacto republicano. Nada é mais valioso à democracia, essa que foi forjada, ontem como hoje, nas concessões, a exemplo das "Diretas Já".

Há um Ceará silencioso, exausto, que não suporta a antiética, a violência e a miséria que os cercam e os ameaçam. E estão dispostos a um novo pacto. Negá-
los em nome de um sectarismo ideológico seria um erro. Pelo contrário, é este quando se alia à massa é quem faz a história avançar. Foi assim na abolição, na independência, na República e na redemocratização.

E quando a polarização colapsar sob o peso das suas contradições, emerja das cinzas um novo projeto, liderado por aqueles que souberam compreender que, na política, não há gesto mais nobre do que reconciliar um povo com sua própria esperança. E não é utopia imaginar que um novo governador se levante, não como produto da velha ordem, mas como arquiteto de um novo pacto civilizatório.

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