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Uribam Xavier: Glauber Braga e o fim da ética
Opinião

Uribam Xavier: Glauber Braga e o fim da ética

Os argumentos utilizados pela Comissão de Ética para cassar Glauber Braga seriam, num parlamento não degenerado, suficientes para cassar o mandato de seus membros por falta de decoro parlamentar
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Uribam Xavier, professor da UFC (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Uribam Xavier, professor da UFC

Influenciar a conduta humana, ou seja, o comportamento real dos seres humanos é o aspecto central da ética. Adam Smith abre a sua obra Teoria dos Sentimentos Morais, publicada em 1759, afirmando que "por mais egoísta que se suponha ser o homem, evidentemente, há alguns princípios em sua natureza que o faz interessar-se pela sorte dos outros, e considerar a felicidade deles necessária para si mesmos".

Hoje, depois de 266 anos, podemos constatar que a premissa de Smith tornou-se uma peça vetusta. A racionalidade instrumental moderna levou o mercado e a sociedade a forjarem comportamentos competitivos efetivadores da guerra de todos contra todos- que, para Hobbes, caracteriza a natureza humana - e ao aprisionamento na jaula de ferro, mencionada por Weber.

O caso de Glauber Braga, deputado federal (Psol - RJ), vítima de perseguição política na Câmara dos Deputados, revela o comportamento comum de deputados orientados pela lógica de seus interesses individuais, que se realizam pela prestação de serviços na defesa dos interesses dos setores do mercado contra os interesses nacionais e da classe trabalhadora; a falácia de que o parlamento é uma instituição que representa os interesses do povo; a mediocridade da maioria de seus membros, cujo comportamento, longe de influenciado por valores éticos, é orientado pela lógica fascista de destruição dos que tentam frustrar seus interesses.

O deputado Glauber ousou barrar os interesses do mercado, dos fascistas e de Arthur Lira (PP-AL), por isso, passou a ser alvo de um processo de cassação, forjado a partir de argumentos torpes por uma "comissão de ética" composta por parlamentares que não têm integridade para se sustentar diante das exigências da ética dos princípios ou da ética da responsabilidade. Os argumentos utilizados pela "comissão de ética" para cassar Glauber seriam, num parlamento não degenerado, suficientes para cassar o mandato de seus membros por falta de decoro parlamentar.

O caso em torno da cassação de Glauber Braga coloca dois grandes desafios para a sociedade brasileira e suas instituições: lutar por uma Comissão de Ética do Congresso Nacional formada por membros da sociedade civil, pois não deve caber aos próprios parlamentares serem membros de uma comissão para julgar a si mesmos; lutar pelo fim das emendas parlamentares que drena dinheiro público para interesses privados e enfraquece a democracia.

Cassar Glauber é fuzilar a ética como fuzilaram Marielle Franco; é abrir caminho para a direita fascista banalizar a cassação dos poucos parlamentares, homens e mulheres, que se colocam contra o racismo, a homofobia, o sexismo, o machismo, a concentração de renda e o capitalismo financeiro em nosso país.

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