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Gustavo Glodes Blum: Missões de paz num mundo de guerra
Opinião

Gustavo Glodes Blum: Missões de paz num mundo de guerra

.A possibilidade de que o conflito russo-ucraniano transborde para a Europa Ocidental, traz novamente as sombras de um conflito nuclear
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Gustavo Glodes Blum

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No último mês de maio, o Instituto Internacional de Pesquisa para Paz de Estocolmo emitiu seu relatório de avaliação a respeito das missões de paz atualmente em vigor no mundo. O SIPRI apresentou um balanço a respeito de como este mecanismo de governança dos conflitos internacionais se comportou no ano de 2024.

As missões de paz são usadas por organismos internacionais e coalizões de países para apoiar a resolução de conflitos. Elas sempre levantaram questões polêmicas, como soberania nacional e intenções de grandes potências. Os números apresentados pelo SIPRI, porém, permitem também compreender o tensionamento atual do sistema internacional.

Das 61 missões de paz em vigor ano passado, 21 tinham lugar nos países da África subsaariana. Estas também concentraram três quartos do pessoal internacional em missões de paz, uma redução significativa para as outras missões de outras regiões do mundo. Essas são duas dinâmicas importantes: por um lado, a União Africana se tornou provedora destas missões; por outro, diminuiu o uso de missões de paz em outros continentes.

Esta é uma das tendências apontadas pelo SIPRI para as missões de paz: elas também são vítimas das atuais tensões geopolíticas e da crise do multilateralismo. Missões robustas, com grande complexidade e que demandam muito pessoal foram descontinuadas em 2024.

As missões mais simples foram renovadas com unanimidade. Elas consistiram no envio de pessoal militar e policial, com foco na estabilização dos conflitos. Porém, não ajudam no fortalecimento institucional nem na busca pelas causas profundas dos conflitos. Ainda assim, é importante perceber que mesmo o pessoal militar e policial foi diminuído, indo de mais de 150 mil em 2015 para cerca de 94 mil em 2024.

Por fim, o risco da inação é grande. O aumento do tensionamento geopolítico e o medo de decisões que escalonem conflitos tornam a decisão das grandes potências e dos membros rotativos do Conselho de Segurança das Nações Unidas um objetivo mais difícil de alcançar. Essa imobilidade já levou mais de 54 mil pessoas à morte apenas em Gaza, das quais quase 17.500 foram crianças. Ao mesmo tempo, a possibilidade de que o conflito russo-ucraniano transborde para a Europa Ocidental, traz novamente as sombras de um conflito nuclear.

Estes números, porém, demonstram também a importância das missões de paz. Elas não seriam descontinuadas ou teriam sua capacidade diminuída se não tivessem efeitos importantes para o Sistema Internacional. Acompanhar o seu futuro próximo e longínquo talvez nos ajude a entender um pouco mais sobre como a política internacional nos afeta cotidianamente.

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