Os relacionamentos de hoje costumam terminar antes mesmo de começar. E se começam, aceleram de tal jeito que nem dá para dizer um "até logo", atropelando etapas, outrora tão importantes: match, conhecer, paquerar, cortejar, primeiro beijo, andar de mãos dadas, fazer planos, morar juntos, casar, ter filhos, netos, quem sabe bisnetos, até a morte de um dos dois. Passam direto do flerte para a falta de paciência. Pulam do match para "aquela peste". Zygmunt Bauman denominou isso de amor líquido: instável, escorregadio, plasmado pela lógica do consumo. Um amor que se quer pronto, imediato, com garantia de felicidade permanente. Mas o que vivemos hoje vai além da metáfora da fluidez. Posso chamá-lo de amor gasoso, pois é volátil e etéreo. Evapora sem deixar quase nenhum traço. Antes de esperar ver a transformação causada pelo amor acontecer, alguns amantes já desistem. Quando é exigido maturidade emocional e diálogo, vem a fuga ou a despedida. O amor gasoso não suporta o peso das etapas. Não quer o cotidiano, quer o espetáculo. Não quer a conversa esclarecedora, quer a química instantânea. Amar hoje é um risco para quem ainda deseja "sonhar" um relacionamento com profundidade. Para quem ainda respeita o tempo das coisas. Para quem compreende que laços não se constroem no ritmo de um scroll. Sabemos que o amor existe, muito embora haja controvérsias...Na experiência cotidiana, o amor talvez exista porque a vida sem ele parece insuportável. É a experiência que abre brechas de eternidade dentro da vida comum e nos dá esperança, mesmo quando ele se desfaz depressa nos deixando sozinhos. Talvez o gesto amoroso mais revolucionário nos tempos de hoje seja simplesmente esperar. Esperar o tempo do outro, o tempo da vida, como quem espera um bom prato de comida para saboreá-lo. Esperar, quem sabe, para ver se, enfim, aquele amor ficar e
se concretizar.