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(Des)humana violência
Opinião

(Des)humana violência

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É dever do Estado proteger seus filhos. Tais medidas visam o ato cometido ou a sua evitação.

Contudo, não depende só do Estado o controle da violência. Faz-se necessário que outros tipos de ações e intervenções pessoais e sociais, corram em paralelo, mobilizando nas pessoas a sua humanidade. Faz-se urgente uma mudança de atitude na internalidade de cada pessoa. O primeiro caminho de paz é pessoal, é construído por cada indivíduo em seu modo de estar no mundo. As normas, leis e limites postos são modos culturais de controle da pulsão destrutiva em nós. É dever do Estado proporcionar condições básicas de sobrevivência e fontes de satisfação que sejam adequadas ao cidadão e à coletividade. Mas é função também do cidadão de cuidar de si e de sua pulsão agressiva. Quando não é possível dar conta desse controle sozinho, é importante pedir ajuda a família, amigos e profissionais.

Em nenhum momento questionei a importância dos movimentos sociais, pelo contrário, em muitos deles já estive presente, e com o fervor da multidão, meu espírito revolucionário também esquentou minha alma e meu corpo. Mas algo diferencia um dos outros no momento do discernimento do certo e errado, do adequado e inadequado, do necessário e supérfluo. E principalmente o que é meu, do outro e nosso! A agressividade não é uma força má que carregamos em nós. Ela faz parte de nossa personalidade, tem um papel no conjunto do que somos. Contudo, pode e deve ser orientada para fins construtivos, autodefesa, força de trabalho, criação, coragem de ser. Embora seja parte integrante de nós mesmos, isso não nos autoriza a utilizá-la para a destruição do outro, da natureza, do bem-estar social. O respeito e a valorização das pessoas são valores fundamentais, são base da convivência sustentável entre os homens e as nações.

Na cultura narcisistas em que vivemos, onde "é proibido proibir", produzem-se sujeitos intolerantes, exigentes de um prazer sem limites e incapazes de suportar a mínima frustração. "A perversidade não provém de uma perturbação psíquica e sim de uma fria racionalidade, combinada a uma incapacidade de considerar os outros como seres humanos", diz a psiquiatra Marie-France Hirigoyen. A sociedade, a família, os adultos compõem o grande espelho onde os jovens refletem suas condutas. A violência na juventude é apenas um reflexo da violência social, somado à força das pulsões adolescentes e ao vazio de valores que desnutre a dimensão humana. O "primata agressivo" que existe em nós, traz em si a potencialidade do humano sensível, capaz de transformar a mais turva realidade. Precisamos urgentemente, de projetos que humanizem o homem. Se não cuidarmos de estancar o projeto violento do modo de viver que se instalou, o futuro da humanidade se fragilizará sob nossos olhares inertes.

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