O discurso de que Israel possui o direito de se defender vem sendo incessantemente usado desde outubro de 2023, quando o Hamas lançou ataques na fronteira Gaza-Israel. Esse discurso tem servido não só para justificar os crimes de guerra cometidos por Netanyahu, como também para silenciar críticas à destruição imposta à população palestina.
Os números são estarrecedores: mais de 55 mil mortos, 110 mil feridos, em sua maioria civis, e cerca de 2,3 milhões de deslocados vivendo em abrigos superlotados, sem alimentos, água potável ou medicamentos. Trata-se, na prática, de toda a população da Faixa de Gaza. Após provocar uma tragédia humana sem precedentes para o povo palestino, o governo israelense decide iniciar uma ofensiva militar contra o Irã. Além do direito de se defender, Israel teria também o direito absoluto de atacar? Irã e Israel disputam influência no Oriente Médio desde 1979, quando o Irã passou a ser uma república teocrática xiita que vê Israel como um regime ilegítimo e opressor, defendendo sua destruição e financiando movimentos anti-Israel, como o Hamas e o Hezbollah.
Apesar das hostilidades históricas, nenhuma explicação do governo israelense expõe as verdadeiras razões do ataque unilateral e não provocado contra o Irã. A principal alegação remete ao relatório de 12 de junho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), segundo o qual o Irã violava compromissos assumidos no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), além de não cooperar com inspetores. O Irã nega tais acusações, e a própria AIEA nunca afirmou que o país tenha - ou esteja perto de ter - armas nucleares. Mesmo assim, Israel, oficialmente sem apoio dos EUA, lançou ataques "preventivos" com o objetivo de eliminar o programa nuclear iraniano. A ironia é gritante: Israel possui armas nucleares e sequer é signatário do TNP.
O que confere então ao governo israelense a autoridade de fiscalizar, julgar e atacar quem, supostamente, viola um tratado do qual o próprio se recusa a participar? O chanceler iraniano Abbas Araghchi sustenta que o objetivo é provocar uma guerra e sabotar avanços diplomáticos com os EUA, afinal, os ataques israelenses atingiram líderes militares envolvidos nessas negociações - muito além das instalações nucleares. O Irã ouve do Ocidente que deve "evitar a escalada do conflito", o que meneia entre o delírio e o cinismo.
Se a defesa de Israel demanda até o assassinato do Chefe de Estado iraniano, como sugeriu Netanyahu, resta claro que a opção "não escalar" nunca esteve sob a mesa. Convém ao Ocidente um pouco do pragmatismo que a experiência iraquiana suscita: trilhões de dólares gastos, milhões de mortos, e o surgimento do Estado Islâmico. Mais instabilidade e insegurança no Oriente Médio e no mundo. Uma vitória de Pirro.