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Renata Marinho Paz: Para onde sopra o vento: religião em Juazeiro
Opinião

Renata Marinho Paz: Para onde sopra o vento: religião em Juazeiro

Em 2000, 93,8% da população de Juazeiro do Norte se declarava católica, e apenas 4,48% evangélica. Dez anos depois, a porcentagem de evangélicos vai para 9,8%, e a de católicos 88,3%
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Renata Marinho Paz, doutora em Sociologia (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Renata Marinho Paz, doutora em Sociologia

A recente divulgação dos dados do censo de 2022 referentes à religião no país aponta para a consolidação de mudanças substantivas que vem ocorrendo na conformação do campo religioso brasileiro. Três aspectos se destacam: o decréscimo do número de pessoas que se declaram católicas e o aumento constante e expressivo de evangélicos, além do crescimento exponencial dos que se declaram "sem religião".

Essa movimentação vem alcançando inclusive redutos tradicionais do catolicismo, como a cidade de Juazeiro do Norte. Em 2000, 93,8% da população de Juazeiro do Norte se declarava católica, e apenas 4,48% evangélica. Dez anos depois, a porcentagem de evangélicos vai para 9,8%, e a de católicos 88,3%.

Conforme os dados do último censo, embora o número absoluto de católicos tenha aumentado na cidade, o percentual de pessoas pertencentes a esta religião caiu mais de 7 pontos percentuais, indo para 81,14%, enquanto a porcentagem de evangélicos subiu para 11,5%.

Embora Juazeiro seja um espaço demográfica e culturalmente alicerçado no catolicismo, é impossível desconsiderar essa dinâmica nas correlações de forças das presenças religiosas na cidade. Há duas décadas, em minha tese de doutoramento intitulada "Para onde sopra o vento: igreja católica e romarias em Juazeiro do Norte", entre outros aspectos, analisei como as disputas no campo religioso juazeirense, notadamente o avanço evangélico, eram elementos que incidiam na reorientação da Diocese de Crato perante as romarias, a religiosidade popular e a figura do Padre Cícero.

Vinte anos depois, na mesma semana da divulgação dos dados do censo sobre as religiões, coincidentemente ocorreu a cerimônia de encerramento da fase diocesana do processo de beatificação do Padre Cícero. Dois eventos díspares; contudo, para quem acompanha o cenário, a questão permanece, mas com sinais de que novos ventos sopram: após duas décadas, nem a igreja católica que se encontra em Juazeiro é, em boa medida, a mesma, assim como o campo religioso vem se mostrando cada vez mais multifacetado e tensionado.

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