O país acompanhou com atenção e tristeza o caso da brasileira Juliana Marins, que ficou presa a 650 metros de profundidade em um vulcão na Indonésia. Além do choque diante da atuação precária das autoridades locais e da evidente falta de capacidade de resposta nos serviços de resgate, o episódio trouxe à tona um incômodo ainda mais profundo: a ausência de apoio efetivo do governo brasileiro em situações de emergência no exterior.
A comoção nacional se intensificou após a família da vítima divulgar que o traslado do corpo não seria custeado pelo governo, o que gerou perplexidade na opinião pública. Diante da repercussão, o presidente Lula anunciou que o Itamaraty apoiaria o translado do corpo de Juliana, no entanto, sem esclarecer que tipo de suporte seria efetivamente prestado. O episódio, portanto, levantou uma pergunta recorrente: outros governos também agem dessa forma? Cidadãos de outros países também ficam desamparados em situações semelhantes?
A verdade é que o Brasil não está sozinho. Em muitos países, o custeio de traslados ou de serviços jurídicos no exterior não é uma obrigação automática do Estado. No entanto, várias nações estruturaram redes de apoio e mecanismos de emergência que permitem respostas rápidas, consistentes e institucionalizadas. É nesse ponto que o Brasil ainda falha.
O Itamaraty tem, entre suas atribuições, o dever de prestar assistência consular aos brasileiros no exterior, mas essa atuação enfrenta entraves sérios: limitações orçamentárias, escassez de pessoal, carência de infraestrutura nas representações diplomáticas e ausência de um modelo estratégico de atendimento aos cidadãos fora do país.
A crescente internacionalização dos brasileiros, seja por turismo, estudo, trabalho ou migração, exige uma modernização profunda na atuação consular. O Brasil precisa investir em tecnologia, ampliar o quadro de funcionários das embaixadas e consulados, e desenhar protocolos claros para situações de risco. Não podemos depender apenas da comoção pública ou da sensibilidade política para garantir direitos básicos.
Essa fragilidade consular também reflete um dilema maior da política externa brasileira: aspiramos a um papel de liderança internacional, mas frequentemente não conseguimos cumprir funções elementares da presença diplomática no exterior. Não se trata apenas de imagem, um país que se pretende protagonista global precisa, antes de tudo, ser capaz de proteger seus cidadãos onde quer que estejam.
A diplomacia brasileira é amplamente reconhecida pela qualidade de seu corpo técnico e pelo papel histórico que desempenhou na consolidação do Brasil como ator relevante nos fóruns internacionais. No entanto, se queremos ser uma potência global, precisamos, primeiro, ser uma potência aos olhos dos nossos próprios cidadãos.