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André Figueiredo: Para que serve um partido?
Opinião

André Figueiredo: Para que serve um partido?

É para isso que serve um partido. Para ser maior que a gente. Para que nos submetamos a uma ideologia, uma crença de que as coisas vão melhorar com nosso trabalho. É um conflito
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André Figueiredo 
Deputado federal (PDT-CE)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal André Figueiredo Deputado federal (PDT-CE)

O Brasil se politizou. As pessoas passaram a acompanhar a vida política nacional de forma intensa e emotiva. Um amigo até fala que os eleitores sabem menos a escalação da seleção brasileira, que a composição do Supremo Tribunal Federal. Porém é preciso esclarecer que politizar-se não indica o nível de maturidade das partes para o debate público, mas sim que agora política é assunto preferencial do barzinho, do jantar em família, do pós-futebol e do almoço aos domingos.

Creio então que é hora de ajudar a população a entender para que serve um partido. Claro, sabemos, nossa legislação exige um partido devidamente registrado e ciente dos seus deveres, devidamente regulamentados, para chegar com número e foto à urna eletrônica. A legitimidade da candidatura passa pelos filtros partidários e é bom que seja assim. Porém não é cartório. Partido também não é time de futebol para que torçamos, tampouco uma escola de samba para a qual dirijamos energias emocionais tão simplesmente. Um partido político não é uma agremiação perfeita, por meio da qual se purificam homens e mulheres.

Um partido político não é um clube por meio do qual se tenha mais chance de ganhar um campeonato, embora essa lógica, por assim dizer pragmática, não seja ilegítima. Bom, se não é cartório, nem clube de amigos, nem um purgatório das almas, o que é? A resposta carrega consigo o motivo da minha permanência há 41 anos na mesma sigla e, também, a motivação pela qual tomei várias decisões para me manter em uma trajetória consistente. Convicção.

Há mais de quatro décadas falo em Getúlio Vargas, em Leonel Brizola, em Miguelina Vecchio e em muitos outros nomes que compuseram essas três letras: PDT. O Partido Democrático Trabalhista. E falo porque sou convicto de um ideal, de um Brasil que se aproxima e se distancia. Vemos chegar perto e vemos se afastar. É com dor, é com esperança, é com chateação e com alegrias. Erros e acertos, como toda trajetória humana. É um caminho múltiplo e confuso. Sem placas de indicação. É solitário e é cercado de gente. Mas é tudo verdadeiro, inclusive a motivação para as divergências. Por isso é sofrido.

Brigas, desentendimentos, rupturas, incompreensões e diversos movimentos em busca de ajustar o foco. Umas questões ficam bem resolvidas, outras não. Porque cada passo do presente vai compor um futuro que nos escapa, em busca de um quimérico controle. Então é para isso que serve um partido. Para ser maior que a gente. Para que nos submetamos a uma ideologia, uma crença de que as coisas vão melhorar com nosso trabalho. É um conflito. É uma mistura. Uma esperança. Ou melhor, é o amálgama cultural de Darcy Ribeiro.

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