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Jayme Leitão: Fortaleza, entre adensar e expandir
Opinião

Jayme Leitão: Fortaleza, entre adensar e expandir

Fortaleza perde população para municípios vizinhos de Aquiraz e Eusébio, hoje cidades-dormitório para uma população de bom poder aquisitivo, que paga impostos prediais lá e perde horas no percurso casa/trabalho
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Jayme Leitão

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Num momento em que se discute sobre a atualização do nosso Plano Diretor, essa é a grande pergunta: Fortaleza deve se expandir e exportar população para municípios vizinhos ou deve se adensar como cidade, buscando ao mesmo tempo elevar a qualidade do espaço urbano? Sob qualquer ponto de vista, inclusive da sustentabilidade, a melhor opção é a segunda.

Hoje o grande desafio do urbanismo é reinventar as cidades, requalificando áreas despovoadas e desvalorizadas (como o centro de Fortaleza, por exemplo), adensando a população de modo a otimizar a infraestrutura existente, a reduzir o tempo com deslocamentos em transporte e oferecer diversidade de comércio, lazer e serviços ao pedestre.

O conceito de que cidade verticalizada é impessoal ou desagradável é um engano, senão vejamos o caso do Rio: entre a Barra, feita para carros e com menor adensamento, todos preferem o Leblon, onde o usufruto se dá ao caminhar em passeios largos, com árvores, vida e diversidade. Nova York é outro exemplo de como uma cidade adensada pode ser prazerosa para o caminhante: trata-se de priorizar os passeios, sem carros em cima, com boa pavimentação, árvores, jardins anexos, sem poluição visual.

Hoje, Fortaleza perde população para os municípios vizinhos de Aquiraz e Eusébio, que estão se tornando cidades-dormitório para uma população de bom poder aquisitivo, que trabalha em Fortaleza, mas paga impostos prediais lá e perde horas do seu dia no percurso casa/trabalho. Seguramente, esse é um processo nocivo para as finanças de Fortaleza e para a própria qualidade de vida dessa população, que não encontrou espaço satisfatório em função da falta de uma política de requalificação urbana de nossa cidade.

A resposta para isso está no binômio verticalização/qualificação urbana: defendo que o gabarito das edificações em Fortaleza seja livre, desde que se adote recuos progressivos de modo a preservar canais de ventilação. Mas isso não basta: é preciso requalificar o espaço urbano erradicando a poluição visual (painéis de LED, totens, placas, outdoors), retirar de uma vez os carros de cima dos passeios, enterrar a absurda fiação elétrica e de dados (90% da qual foi simplesmente abandonada pelas concessionárias), trocar postes por árvores (sombreamento em Fortaleza é uma questão de saúde pública), preservar as ciclovias, erradicar os paredões de estacionamento, induzir pela legislação a adoção de fachadas ativas, de modo a aumentar a sensação de segurança do pedestre.

O resultado será compensador: arrecadação crescente, valorização urbana, geração de empregos, segurança, qualidade de vida!

 

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