A 17ª Cúpula dos Brics, realizada no Rio de Janeiro, reuniu representantes dos 11 países membros para discutir o tema: "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável". Com ausências de peso - como a de Vladimir Putin, presidente da Rússia, que participou por videoconferência, e de Xi Jinping, presidente da China, que enviou o primeiro-ministro Li Qiang em seu lugar - o evento também foi marcado pelo antagonismo público do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ainda assim, o encontro parece ter atendido às expectativas do bloco.
Entre os principais temas debatidos no Rio de Janeiro, estiveram a reforma de organismos internacionais, o estímulo ao comércio intra-Brics e a criação de um sistema de transações transfronteiriço em moedas locais. Questões como transição energética, infraestrutura sustentável e inovação tecnológica também ganharam destaque na pauta, apontando para áreas estratégicas de cooperação entre os países-membros.
Ao final do encontro, os Brics divulgaram a Declaração do Rio de Janeiro, que consolidou compromissos conjuntos e abordou tópicos sensíveis para a política global contemporânea. Entre esses pontos, destacam-se as críticas ao aumento indiscriminado de tarifas no comércio internacional, a preocupação com a situação do território palestino ocupado e com as tensões no Oriente Médio, além de menções ao conflito entre Rússia e Ucrânia. No documento, porém, imperou a diplomacia e Trump, Israel, Ucrânia e Rússia foram poupados de críticas diretas.
O tom cauteloso do texto demonstra que, apesar do discurso de unidade, as diferenças político-econômicas entre os membros ainda limitam um posicionamento mais firme do bloco. Nesse sentido, a entrada de novos países adicionou mais complexidade às negociações, trazendo interesses regionais e prioridades distintas para a mesa. Contudo, também existem objetivos comuns, além de fatores externos que atuam como elementos de coesão.
Durante o evento, Donald Trump declarou em rede social que pretende impor uma tarifa extra de 10% a países que se alinhem a "políticas antiamericanas do BRICS", sem detalhar quais seriam essas medidas. A ameaça foi rebatida pelo governo brasileiro que a interpretou como sinal da necessidade do fortalecimento da autonomia do grupo. Nesse sentido, o projeto de construção de um sistema de pagamentos transfronteiriços do bloco deve se tornar um dos focos centrais de negociação nos próximos anos.
A expectativa agora é que os grupos de trabalho formados na Cúpula avancem nos próximos meses, transformando as diretrizes acordadas em ações concretas. O progresso do bloco ampliado dependerá diretamente da capacidade de conciliar ambições nacionais com metas comuns que transformem a retórica de cooperação em resultados práticos que beneficiem as populações dos países-membros.