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Hugo, Azevedo e a justiça fiscal
Opinião

Hugo, Azevedo e a justiça fiscal

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"Caríssimos irmãos, meus bons amigos: na França, há um milhão, trezentas e vinte mil casas de camponeses que só têm três aberturas; um milhão, oitocentas e dezessete mil que têm duas aberturas, uma porta e uma janela; e, finalmente, trezentas e quarenta e seis mil cabanas, cuja única abertura é a porta. E isso por causa do denominado imposto de portas e janelas!". Assim Victor Hugo expôs as feridas sociais do século XIX em "Os Miseráveis" (1862). O imposto de portas e janelas simbolizava o peso de uma política fiscal que sacrificava os pobres para sustentar um Estado negligente. Para evitar pagar mais, famílias se fechavam em casas escuras, sacrificando sua saúde e dignidade. O Estado, ao tributar a luz, negava ar, sol e esperança. Vinte e oito anos depois, no Brasil, Aluísio Azevedo publicava "O Cortiço", retratando uma desigualdade igualmente cruel. O cortiço, mais que um amontoado de quartos, simbolizava uma sociedade doente, degradada física e moralmente. Ali, as janelas também eram mínimas ou inexistentes. Enquanto Hugo denuncia o imposto que escurecia os lares franceses, Azevedo aponta para a ganância de João Romão e a conivência social. No Brasil de 2025, a desoneração do imposto de renda para quem recebe até 5 mil reais reflete um ideal humanitário defendido por ambos: aliviar o peso sobre os que menos têm. Ao reduzir ou isentar o imposto de renda dos mais pobres, o governo busca ampliar o acesso a condições básicas, permitindo "abrir janelas" para os que vivem sufocados. Ao mesmo tempo, a proposta de taxar os super-ricos corrige distorções históricas, transferindo recursos de um capital rentista improdutivo para quem trabalha e quase nada possui. Os ideais sociais e literários de Hugo e Azevedo permanecem vivos até hoje, a inspirar justiça fiscal
e social.

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