Acabou-se o tempo em que a poesia era privilégio da classe média! Aqui está a periferia que escreve.
Nosso palco? O chão da praça.
Nosso público? Quem quiser escutar.
Amontoados nos barracos, não à beira do cais, mas à beira do caos — entre tiros, perigos e muralhas — sonhamos com pontes que nos farão alcançar as estrelas, para além das vielas apertadas. Nos rotularam como marginais. Agora, tomamos posse do rótulo e vamos tomar à mão armada de vocês as palavras, os livros e os recitais.
Fiquem com as bibliotecas — são lugares de silêncio. Nós somos barulho!
Nóis é muita treta, não nos enquadramos nas suas normas cultas.
Escrevemos como falamos, sem dicionário — e mesmo assim, nosso vocabulário é rico.
"Ah, pode crer, boto fé, tô interado
Vai dar bom, tô ligado, tu é doido
Tá roxeda, vét, se for sal, vai ser sal
E se for pedo? Aí dentro! Ó os papo..."
Quantas faculdades de Letras os playboys vão precisar pra entender
o Emiciomar?
Nosso construtivismo? A força das ideias capazes de parir um novo mundo do ventre da sociedade em decomposição.
Aqui está a verdadeira poesia-práxis.
Poeta, fale da beleza, mas ela não existe, enquanto irmãos forem aliciados ou mortos por uma arma.
Para ser plena, a poesia precisa de luta! Aqui, sem brisa e blá-blá-blá, ela é tecnologia de sobrevivência. Reconstituindo noções coletivas: que em toda praça de todo bairro nasça saraus, slams e batalhas de rimas.
Poetas das vielas, ergam os punhos!
Salve Lima Barreto, preto maloqueiro! Solano Trindade negro drama, entre esperanças e coragem, salve Carolina Maria de Jesus, Ferréz, Sérgio Vaz.
Salve Livro Livre Curió, Pôr dos livros, Periferia que Lê, Coletivo Favelart, Rep Nazarea e todos os maloqueiros que fazem da palavra trincheira.
A partir de agora, a poesia é nosso território e a defenderemos como nosso estandarte na linha de combate.