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José Nelson Bessa Maia: Choque do Tarifaço de Trump sobre o Ceará
Opinião

José Nelson Bessa Maia: Choque do Tarifaço de Trump sobre o Ceará

Trata-se de um grave contencioso que exigirá do Brasil habilidade negocial, jogo de cintura e, ao mesmo tempo, capacidade para abrir espaço em novos mercados de destino para os segmentos econômicos mais afetados pelo tarifaço
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José Nelson Bessa Maia. Mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de assuntos internacionais do Ceará. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal José Nelson Bessa Maia. Mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de assuntos internacionais do Ceará.

O recente anúncio pelo presidente americano Donald Trump de taxação de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA por razões não econômicas, mas sim geopolíticas (BRICS) e de interferência em assuntos internos do Brasil gerou indignação e repúdio por parte dos diversos segmentos da opinião pública. Afinal, o Brasil é um país cronicamente deficitário em suas transações de comércio com os EUA e não se encaixaria no argumento comumente usado pela Administração americana para taxar com altas tarifas seus parceiros comerciais.

Em caso dos EUA não aceitarem rever a medida e o Brasil retaliar mesmo que de forma seletiva isso criará, além de perda de receita e empregos no setor exportador, uma pressão de custos sobre o agronegócio brasileiro que importa máquinas, equipamentos e óleo diesel dos EUA, gerando uma inflação adicional e uma perda de atividade no setor com efeitos em cadeia.

Trata-se, portanto, de um grave contencioso e que exigirá do Brasil muita habilidade negocial, jogo de cintura e, ao mesmo tempo, capacidade para abrir espaço em novos mercados de destino para os segmentos econômicos mais afetados pelo tarifaço.

No caso do Ceará, que depende mais do que o Brasil do mercado americano para suas exportações, os impactos serão relativamente mais fortes do que para o país como um todo. Os EUA são o principal mercado para nossas exportações, cerca de US$ 658,9 milhões em 2024 (44,8% naquele ano e 52,2% no primeiro semestre de 2025), mas tinham sofrido forte queda (-31,4%) em relação ao ano anterior. Assim, mesmo sem o aumento de tarifas, as vendas de produtos cearenses aos EUA já vinham em forte declínio, não compensado pelo aumento que se verificou nos seis primeiros meses deste ano.

Com a eventual imposição de 50% de tarifas, as receitas de exportação para o mercado americano terão uma queda ainda mais acentuada. Dado o peso dos produtos siderúrgicos (ferro fundido, ferro e aço) na pauta exportadora e a importância dos EUA (cerca de 80% das vendas externas desses produtos) como destino, o impacto sobre as receitas da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) serão consideráveis.

Em face dos riscos que essa situação impõe para a economia cearense, cabe aos responsáveis locais pelas decisões, tanto no setor público quanto privado, articular com o Governo Federal uma estratégia de negociação com o Governo dos EUA que reveja o tarifaço ou minimize seus efeitos e, simultaneamente, procurar promover, via suporte da APEX-BRASIL, exportações em terceiros mercados, de modo a reduzir a dependência crônica em relação aos EUA.

Urge, portanto, uma ação rápida e pragmática para resguardar o nível de atividade e emprego no Complexo do Pecém e superar esse enorme choque externo contra a dinâmica de crescimento do Ceará.

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