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Edilberto Pontes Lima: Fortaleza caminhável: entre avanços e desafios
Opinião

Edilberto Pontes Lima: Fortaleza caminhável: entre avanços e desafios

É urgente pensar Fortaleza como uma cidade verdadeiramente caminhável, ao menos nesses trechos com clara vocação para isso. E esse caminho requer mais que boas obras isoladas
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Edilberto Carlos Pontes Lima, conselheiro do TCE Ceará (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Edilberto Carlos Pontes Lima, conselheiro do TCE Ceará

No último domingo, fui à Estação das Artes, um dos mais belos equipamentos culturais de Fortaleza. Inaugurada há alguns anos, após um cuidadoso processo de restauração da antiga estação ferroviária, consolidou-se como espaço vivo e vibrante. Estava repleta de crianças, famílias, turistas e moradores locais. Havia atividades artísticas, oficinas, música, gastronomia. Um verdadeiro acontecimento popular.

Ao sair, atravessei a rua em direção à Emcetur — outro espaço público de valor histórico e arquitetônico, com farto artesanato local. Contudo, ao deixar a Emcetur rumo ao carro, uma curta distância, a sensação de festa cedeu lugar a um alerta incômodo: apesar dos avanços visíveis e do esforço do poder público em recuperar uma área antes marcada pela degradação, Fortaleza ainda enfrenta desafios importantes para se tornar mais amigável ao pedestre.

A caminhada tornou-se tensa. Usuários de drogas abordavam quem passava, não havia presença policial visível, nem elementos urbanos que convidassem a andar com tranquilidade. Um contraste marcante entre o interior dos equipamentos e a ambiência das ruas.

O entorno reúne lugares de enorme valor, como a Catedral, o Mercado Central, o Passeio Público, o Museu da Indústria, o café do Senac em um antigo casarão recentemente restaurado, além da própria Estação das Artes e da Emcetur. Mas a conexão entre eles ainda é precária. Estão, em grande medida, desconectados.

É urgente pensar Fortaleza como uma cidade verdadeiramente caminhável, ao menos nesses trechos com clara vocação para isso. E esse caminho requer mais que boas obras isoladas. Exige integração urbana, continuidade entre os espaços públicos, policiamento comunitário visível e permanente, arborização planejada, iluminação eficiente e calçadas acolhedoras. Há um amplo repertório urbanístico já testado. Cidades como Medellín e Barcelona, por exemplo, oferecem boas referências, mas mesmo Fortaleza já aponta caminhos, como nas áreas requalificadas da Beira-Mar e da parte final da Avenida Desembargador Moreira.

Fortaleza tem vocação para ser uma cidade viva, generosa com o caminhar, amiga do encontro e do acaso urbano. Mas, para isso, ainda é preciso mais coordenação e maior presença do poder público.

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