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Roberta Andrade Ferreira: Por que Shakespeare nunca envelhece?
Opinião

Roberta Andrade Ferreira: Por que Shakespeare nunca envelhece?

Shakespeare não só influenciou a literatura, mas também o teatro, o cinema e até a psicologia. Escreveu sobre amor, poder, traição, ambição, ciúme, vingança e destino - emoções e dilemas que continuam relevantes em qualquer época
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Roberta Andrade Ferreira

Advogada e mestre em Direito Privado


O que faz de Shakespeare, particularmente, tão lido e traduzido em diversos países? Shakespeare não só influenciou a literatura, mas também o teatro, o cinema e até a psicologia. Escreveu sobre amor, poder, traição, ambição, ciúme, vingança e destino - emoções e dilemas que continuam relevantes em qualquer época. Quem nunca viu um "Romeu e Julieta" moderno ou um "Hamlet" disfarçado na ficção atual?

Convido o leitor a explorar Hamlet, uma das obras icônicas de Shakespeare. A peça percorre temas como corrupção e poder, loucura e sanidade além de vingança e justiça. O jovem Hamlet, movido pelo desejo de vingar a morte de seu pai, enfrenta dilemas morais que desafiam sua sanidade e o seu sentimento de justiça. Aqui, um detalhe curioso e não aleatório, o homônimo entre pai e filho - o mesmo nome e personalidades semelhantes.

Outro tema central é a dúvida e a incerteza de Hamlet. A célebre e clássica frase "Ser ou não ser. Eis a questão" reflete sua hesitação. Sentindo-se traído por sua mãe - Gertrudes e seu tio Cláudio - agora rei da Dinamarca e a quem culpa pela morte de seu pai, o protagonista mergulha em um dilema existencial e moral.

Shakespeare sugere que o sofrimento de Hamlet é fruto de sua imaginação ou de uma percepção distorcida da realidade. Esse receio é expresso por Gertrudes, em seus diálogos com o filho, quando afirma: "Isso é fruto somente de teu seu cérebro.

É sempre muito fértil o delírio ao inventar coisas." Além disso, Horácio, amigo de Hamlet, também reconhece a influência da loucura, dizendo que "o delírio o conduz ao desespero." Essas falas reforçam a ideia de que o príncipe pode estar se perdendo em suas próprias ilusões.

O espectro do rei aparece inicialmente aos guardas do reino, mas apenas Hamlet interage diretamente com o fantasma, levando Gertrudes e os cortesãos a questionarem sua sanidade. Hamlet declara que vai fingir estar louco ("to put an antic disposition on"), mas seu comportamento se torna cada vez mais errático e imprevisível, sugerindo que ele pode estar realmente perdendo o contato com a realidade.

Hamlet vê traição por toda parte - em sua mãe, em Ofélia, em Rosencrantz e Guildenstern. Mas será que todos realmente conspiram contra ele, ou sua paranoia o faz enxergar inimigos onde não existem? A peça nos lembra que a realidade pode ser nebulosa e enganosa. Nem sempre pensar leva à racionalidade, e, como Shakespeare sugere de forma brilhante, a mente, por vezes, também mente.

Essa mentalidade dialoga com o pensamento de Augusto Cury que explora a complexidade da mente humana e os seus labirintos emocionais. Assim como Hamlet se perde entre a dúvida e as abstrações, Cury nos alerta sobre a importância de gerenciar nossas emoções para não sermos reféns de nossa própria mente.

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