Certa vez, subindo de bicicleta pela avenida Desembargador Moreira, usando o espaço reservado aos ciclistas, fui surpreendido por um carro parado na ciclovia. Já me preparava para advertir o condutor quando ele baixou o vidro e me disse: — Doutor Heitor!
Era um paciente meu. Perguntei por que havia sumido e ele me respondeu: — O senhor me pediu uma colonoscopia. Fiz o exame e deu um câncer de intestino. Fui ao especialista, que me operou. Era um tumor em fase inicial.
Vejam o valor da prevenção. Por isso que solicito a todos os meus pacientes a partir dos 45 anos a colonoscopia. Quando algum deles se recusa a fazer, registro na ficha: “Paciente recusou realizar colonoscopia.” Me resguardo, mas me preocupo.
Há poucos dias, o Brasil se despediu de Preta Gil, vítima de um câncer colorretal. Sua morte se soma à de outros nomes queridos, como Pelé, Roberto Dinamite e Luiz Gustavo.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer – Inca, estima-se que o Brasil tenha registrado 45.630 novos casos de câncer colorretal por ano entre 2023 e 2025. O dado mais alarmante, no entanto, é que mais de 70% desses casos são detectados em estágio avançado, quando o tratamento é mais difícil e a cura, menos provável. Morrem no Brasil 21 mil pessoas em decorrência do câncer de intestino por ano. São 1.750 mortes por mês. Sessenta brasileiros morrem diariamente vítimas dessa doença.
O câncer colorretal é o segundo mais comum entre homens e mulheres no Brasil. Porém, ao contrário de muitos outros, é um dos poucos tipos que permite diagnóstico precoce e tratamento curativo. A colonoscopia, exame que permite visualizar todo o intestino grosso e o reto, é capaz de detectar lesões antes mesmo de se tornarem malignas. Estamos falando de um tipo de câncer que, quando descoberto em fase inicial, tem mais de 90% de chance de cura. A diferença entre viver e morrer pode estar em um exame que dura cerca de 20 minutos, feito com sedação e segurança.
Felizmente, hoje vivemos em um tempo em que falar sobre prevenção já não é tabu. Mulheres se conscientizaram sobre o câncer de mama, fazem mamografia. Homens superam resistências e vão ao urologista para rastrear o câncer de próstata. Precisamos fazer o mesmo com o câncer de intestino.
Como médico e como deputado estadual, defendo campanhas de conscientização. Precisamos levar essa informação aos centros de saúde, escolas, igrejas, redes sociais. A medicina preventiva deve ser política pública.
Preta Gil, com coragem e transparência, falou sobre sua doença. E agora, com sua partida precoce, deixa um alerta: não espere. Aos 45 anos, com ou sem sintomas, procure seu médico e faça a colonoscopia.
Vamos cuidar antes que a vida nos cobre mais do que poderíamos evitar.