Em tempos de crescente fundamentalismo religioso e da intromissão perigosa de denominações religiosas nos assuntos políticos, deveríamos nos perguntar qual o papel do Ensino Religioso - componente obrigatório no currículo do Ensino Fundamental - na construção de uma sociedade pluralista, capaz de acolher a diversidade e fomentar o Estado Laico.
O debate sobre a religião está em alta, mas quem acha que isso é boa notícia se engana. O ponto em questão, de alcance mundial, é a ascensão do fundamentalismo religioso, isto é, a interpretação teológica que, ignorando a ética e o estudo científico, aplica os textos e princípios religiosos do modo literal, por vezes anacrônico, sem deixar espaço para o diálogo inter-religioso e a convivência respeitosa entre credos e culturas diferentes. Ele está presente, por exemplo, na narrativa cínica por trás do extermínio perpetrado pelo Estado de Israel contra o povo palestino. O fundamentalismo religioso move guerras.
Aqui no Brasil temos outra categoria de consequências: o discurso religioso é introduzido massivamente na política, como já antecipava o filósofo Karl Marx, como instrumento de alienação. Daí emerge um clima propício para todo tipo de absurdo que vem ultrapassando o púlpito, provocando o pânico moral e mobilizando os afetos cirurgicamente para pautas que colocam direitos em risco, transfigurando sutilmente o Estado Laico numa teocracia.
Voltando, então, às linhas iniciais deste artigo, apontamos o Ensino Religioso como um dos antídotos para o retrocesso. Construído sobre uma base laica e científica, ele poderia contribuir significativamente no processo de conscientização das juventudes, atuando como um braço para o enfrentamento da intolerância e do fundamentalismo e desatando horizontes de convergência plural e respeitosa em nossa sociedade hodierna.
Cabe às secretarias de educação um olhar atento a esta disciplina, geralmente deixada de lado, invisível nas redes de ensino e escolas; ou pior, muitas vezes sendo guiada de forma deturpada, como meio de doutrinação, não só desperdiçando seu potencial, mas invertendo seu propósito.